SINTASE DO CONSTRANGIMENTO
ESPAÇO
-
do mito ao grito –
“Pensei o quanto
desconfortável é ser trancado do lado de fora; e pensei o quanto é pior,
talvez, ser trancado no lado de dentro.” Virgínia
Woolf
Para todas
as verdades há o inscrito: “... aqui jazem
pedaços da alma de um pensamento.” Verdadeiro ou promissoramente
reprovável, pensar não indica
caminhos livres de intempéries. Muito pelo contrário, fazer pode ser bem mais intrigante e complexo. Entre suscitar e manifestar constroem-se muros de menor ou maior planejamento – isto
quando não se desconta o fardo dos acasos e improbabilidades. Inconstâncias da
vida pública (aquela que existe simplesmente porque pensar é um ato
politicamente marcado, ou, em estado de política negação.)
Mas,
contrariando o dito, advém a quem pensa que, nem mesmo a possibilidade acima se
expressa verossímil: no lugar de nossa contemporânea imersão social (consciente
ou inconscientemente), cria-se um espaço de completo vácuo. Do lado de fora,
aparentemente, permanece o universo do outro lado. Pelo lado de dentro,
discutivelmente, transfigura-se o lado interno. Duas prisões sem habeas corpus. “Que tenhas o teu corpo”... em latim. E que deixes os demais, em
qualquer língua (sem trocadilhos e picardias!), no lugar próprio do
pertencimento e da antropologia.
A história
da humanidade esconde indignas masmorras e jamais revelará as estratégias por
detrás das intenções. Tensões? Conflitos! A base do crescimento não reina em
paz e nem dela se faz a coroa da vitória, infelizmente. Ainda assim, tensões e
conflitos podem acarretar reinações
de grande evolução. E que não se pense, pensando, na direta razão do
aprisionamento desnecessário.
Aos
sensíveis, a guilhotina do
envolvimento. Aos medíocres, o trono da indiferença. Lá dentro, onde dizem habitar
as sombras das ideias – por mais que eu pense e repense que elas, as ideias,
não têm endereço, lado ou lugar – uma forca de fios ideológicos aguarda,
indubitavelmente, todo aquele que se apresenta em ingênua modelagem. Lá dentro - um lugar sem lugar que tanto
pode ser a alma de um ser pensante quanto a enciclopédia embolorada do mundo
dado a conhecer - é o espaço das suposições. Prisão e liberdade não ocupam a
mesma categoria morfossemântica, mas dão conta da sintaxe do constrangimento.
Dar espaço a uma ou outra é movimento que envolve muitos lados: dentro e fora
podem ser apenas um começo.
Que se tenha
espaço para mobilizar a liberdade e conhecer a antonímia de suas inflexões.
Com carinho,
despeço-me de meus leitores desta coluna, parceiros de uma história que não
termina aqui.
Ivane
Laurete Perotti