TEXTO PUBLICADO NO JORNAL PENSAR A EDUCAÇÃO FaE/UFMG
O
VERBO É O SUJEITO
Para
aqueles que insistem em alimentar o discurso da apatia na escola pública, uma
notícia: o verbo é o sujeito, o sujeito é
o verbo. Esta aparente antonímia gramatical foi declinada por um aluno do
ensino médio, durante um estudo sobre os verbos em língua portuguesa brasileira.
Por testemunha, o sol mergulha no presente do indicativo, sublinhando a flexão
da conjugação em /ir/, primeira pessoa do singular. E quem não decodificou o
nome do aluno, perdeu a voz: vez de quem
pensa que pensar não dói! Momento para os sujeitos saírem ao sol de agosto
em plena Belo Horizonte verbal.
Aprendentes,
oleiros das linguagens, constituem a escola um lugar de conspiração poética:
“acidentes” de sentido amalgamam o tijolo das construções linguísticas e
embalam o grego Aristóteles em sono retórico. Sujeito e verbo? Substância e
acidente? Conhecer um e outro é dar-se a conhecer em abundante
devir. E a quem possa interessar, abundância, aqui, não é antítese: é decisão.
Decisão que ladeia o olhar sobre a escola tingida pelo sol tímido, acuado entre
o seco final de julho e os presságios de chuvas fronteiriças. Abundância na
ação criativa de aprendentes diversificados pelas estações individuais;
abundância em desconstruir o posto _ particípios deslizam pelas antigas
cortinas e deitam-se para refazer o caminho do verbo nascente. Um substantivo
espia, indeciso, imberbe diante ação inconclusa: um e outro? Ou um, ou outro?
Quem chama à vez aquela voz de adolescente no fundo da sala? _ para conhecer o já sabido.
A
língua portuguesa brasileira chora alfabéticas lágrimas de alegria! Eis que
abundam possibilidades para quem a toma para si: parteiras de plantão
interpretam o fato e esperam pela leitura formal. Sujeito ou verbo? O sujeito é o verbo! O verbo é o sujeito!
Cai
em si mesma a consciência “estética da criação verbal” (BAKHTIN, 1997). Cai
ela, caio eu. Caio embevecida pela natureza escaldante da aprendizagem:
processo que carrega baldes de sapos com infinitas possibilidades não costuradas
à pobre boca anfíbia tão afeita a práticas não comprovadas. Caio diante das
lágrimas alfabéticas que a língua dos “tupiniquins” faz jorrar em ouro líquido:
sílabas abertas em quilates de pureza agregam-se às sílabas fechadas. CV, CVV,
VC, CVC dançam pela sala de aula como se não houvesse amanhã. Amanhã? "Demasiadamente
tarde, conheci a boa consciência, no trabalho alternado das imagens e dos
conceitos, duas boas consciências, que seria a do pleno dia e a que aceita o
lado noturno da alma" (BACHELARD, 1988, p.52). Palavras inteiras mudam
de ambiente apenas para dizer que estão lá: prontas para significar.
Aprendentes dançam com as palavras apenas para recriar a música. Passos de
regência e concordância alinham orações e rezas; todos pedem para que jamais
cessem as alfabéticas lágrimas alegres da língua: por todas as vozes do verbo e dos sujeitos, que a língua chore sobre nós!
Que chore alegre as perífrases e
metonímias, que chore as sílabas de hoje e amanhã... que chore sobre os nativos
desta Terra de tantos ais!
Eis
a notícia sobre a vida da escola pública: o
sujeito é o verbo!
Caio nessa com insuspeita coragem!
Referências:
BACHELARD,
Gaston. A poética do devaneio. (tradução. Antônio de Pádua Danesi). São Paulo:
Martins Fontes, 1988.
BAKHTIN, Mikhail. Estética da Criação Verbal. 2ª edição. São Paulo: Editora Martins
Fontes, 1997.
Ivane
Laurete Perotti