VENENO DO MEDO

PARA FALAR DE ESPERANÇA: AINDA HÁ TEMPO?

"A esperança é um alimento da nossa alma, ao qual se mistura sempre o veneno do medo."
Voltaire


                             Dúvidas agudas sobre os contornos do verossímil e o avanço do ficcional têm alimentado meu desconsolo mental.  Imagens controversas se entrecruzam no mesmo espaço nebuloso e sinto severas dificuldades em ater-me ao que parece real, ao que configura um fato, ao que se mostra como tal e ao que em nenhuma das alternativas anteriores se encaixa. A cada dia desconheço mais as linhas que separam  o acontecido do ocorrido. Nem verdade, nem mentira, nem retórica de ocasião, nem a matemática nipônica dá conta de sublinhar o dito e o apontado. De duas, uma: ou a linguagem superou sua capacidade fundadora, ou nós, operários fundidos nela aprendemos a desdobrá-la sem respeito aos turnos de verdade e omissão. A começar pelo inegável, tortuoso e flexível conceito de verdade, para não fazer uso de outras palavras menos... menos  airosas! Sou antiga, sinto uma saudade cafona dos tempos imemoráveis ( e quase, quase inexistentes ) nos quais a palavra se tomava de algum valor - ou era tomada por ele, a título de possessão justificada - não sei!  Veementemente confesso minha incapacidade atual e constante de discernir rasgos de indícios, indícios de provas, provas de veredictos, e justificativas de signos marcados pelo mercado dos interesses desinteressados. Já não sei, tenho outras dúvidas coçando atrás dos campos semânticos que nodosamente brincam entre as sinapses de meu cérebro: será que estou sendo abduzida por teorias conspiratórias, corruptórias, milagrórias, ou... é tudo, tudo, tudo culpa dos roteiristas dos jornais de plantão e também daqueles que fazem parte da ocasião? Quem? Os jornalistas ou os roteiristas? Eis uma das provas das conexões desconexas entre meus neurônios: não identifico o sujeito de minha oração e ainda crio a possibilidade sintática de que ele, o sujeito escolhido, ocupe a função de objeto, sem direito a complemento. E precisa? Quem? O objeto ou o complemento?
                               Essa batuscada de sentidos imprecisos surgiram como resultado de outra incapacidade pessoal: decidir discorrer entre tantos assuntos trágicos com os quais a semana nos sacudiu, ou, chafurdar na misura filosófica de outros temas que passam pelas indicações do vestuário para entrar no Templo de Salomão ( certamente não conseguirei entrar, mas a Dilma conseguiu e ninguém comentou o modelito de nossa mandatária mor) ou a quebra dos cadeados de amor em plena e pesada grade da Pont des Arts, que atravessa o Sena entre o Louvre e a Academia Francesa. Tanto amor resultou em desmoronamento material. E agora? O que será dos signos e das promessas amarradas nas pontes parisienses? E dos Templos religiosos que ditam etiquetas e marcas de roupas, calçados e afins para o culto ao subjetivo mundo da religião? Não sei, mas quando alguém indicou a forma de se apresentar diante de DEUS, eu só pensei em estar nua, nua e nua. E descalça, antes que me corrijam. Descalça! Ai! Cristo! O que já fizeram por Ti, de Ti e para Ti. E antes que me façam responder juridicamente pelo escrito aqui, eu repito: estou confusa! Condição esta que me leva a dizer e escrever num rompante de ideações ebúrneas. Claro! Óbvio... ou não! Mas pode se transformar em uma justificativa aceita, no mínimo. Odeio a ironia. Ela alimenta a minha alma já desnuda e gera dermatites em lugares imateriais. Ainda, não quero terminar esse texto, pelo desejo insano de aproveitar as coceiras da consciência e exercitar minhas desconexões ficcionais. Ficcionais? ah! Deixemos assim... será?
                                         SIC!!! Eu iria escrever sobre a esperança...

                        

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