DRAMAS DE CONTROLE - disfarces da imaturidade
MÁSCARAS
DO COMPORTAMENTO HUMANO
- toda a prepotência será cobrada,
pois camuflam ditadores disfarçados em gente -
"
A agressividade gratuita e recorrente revela um comportamento infantil: o
desejo de controlar a realidade e os outros, porque sempre eles, os
outros, são os responsáveis pela minha inaptidão." (
Ivane Perotti)
Três
vezes por semana ele assinava o livro de presenças. Permanecia no local
parabenizando-se pela astúcia: ninguém
desconfiava de sua inexpressiva ausência, nem ele mesmo. Há muitos e muitos anos
frequentava um curso sobre amadurecimento
humano e gozava de certa reputação entre os demais. Dizia-se um homem bom,
justo, dedicado às causas alheias, caridoso e sempre pronto para ajudar; o seu
lema era inegável: sou um homem simples, não faço o
mal para ninguém! E sofria, sofria aquele homem, como todas as almas perfeitas sofrem quando a
incompreensão alheia não toca harpas à sua lustrosa bondade e santificado
caráter. Afinal, custava-lhe manter a postura maquiada no teatro das relações e praticamente não
dispunha de tempo para assumir o próprio drama: negava-se a crescer!
Quisera fosse simples dizer sobre as
máscaras que vestimos no decorrer da existência, especialmente as que nos
viciam nos autorretratos distorcidos em suposta perfeição. Embaixo da primeira
camada de civilidade que nos recobre residem complexos jogos de poder ,
transferíveis e palpáveis na rotina da sobrevivência do ego. Coexistimos com o
"coitadinho de mim" - a
eterna vítima -, com o "ego inflado"
- o perfeito -, o "dono da verdade"
- aquele que sempre e sempre tem razão -, o "sabe-tudo" - aquele que tem a resposta: a dele própria! -, o "
bonzinho " - aquele que nunca e
nunca deseja o mal -, o "ditador
inteligente" - aquele que legisla sobre a eterna culpa alheia -, o
"prepotente" - aquele que
convence os outros do quanto lhes presta favores -, o "emburrado" - aquele que domina pela
agressão silenciosa -, o "agressivo"
- aquele que domina pela agressão exposta - e, o rol é tão vasto quanto a nossa
capacidade de nos fazer acreditar que somos bons
atores. Contudo, as peças da vida não permitem ensaio, nem
remendo, pois não há coxia que dê
conta de esconder por muito tempo o barulho de nossa imaturidade. O que está dentro é visível a olho nu, e bom seria não temermos conviver com a dual necessidade
de estarmos presentes no crescimento de nossa identidade. Entenderíamos, com algum esforço que, a simplicidade é deveras complexa e não pode
ser confundida com negar-se a participar da evolução pessoal. Infeliz daquele
que precisa criar desculpas para esconder-se diante das dificuldades, dos
limites, da própria intransigência, da crônica e doentia vontade de ser a única
voz a ecoar nas interações. Pode que, por algum um tempo, ele convença a alguns acerca de suas verdades, mas não há vento que não
sopre sobre o pó das mentiras instituídas. Para isso servem os jogos de poder, os dramas de controle, e
as complexas justificativas que o ego
cria para manter a invencibilidade: furtar-se às dores, às perdas e aos erros é
pecar contra a inteligência do espírito, mas é o que mais nos convence a
permanecer com as máscaras do comportamento, in-felizmente!
Custe o que
custar, paga-se o preço da passagem nesta viagem
pela vida: quanto mais se demora a crescer, maior será a cobrança sobre os
movimentos perdidos.
Por quanto tempo
um ser humano consegue enganar a si mesmo? Por
bem mais tempo do que consegue enganar aos outros, pois olhar a vidraça
alheia carece de movimento interior.
E lá continuava ele a assinar o livro
de presenças.
"Olhos vazios não se sustentam diante do
espelho da vida: em algum momento, de alguma forma, terão de enfrentar a si mesmos e sentirão o peso dos
disfarces usados." (Ivane Perotti)
Ivane Laurete Perotti