ESTRELAS ABERTAS
TENTÁCULOS
DA EDUCAÇÃO
-
braços são membranas cadentes, estrelas
do conhecimento interno -
" ... o professor
deveria ser polvo."
Rosana Moura - professora
Um dó sobe pela cortina entreaberta para espiar o compasso do dia.
Outras notas, prazerosamente liberadas ao consumo da escrita empírica, perambulam em busca de espaço nas linhas da
classe regada pelo sol. No início da pauta, uma aula de Língua Portuguesa
Brasileira: conjunto harmonioso de vontade e competência que, em muito, traz à
memória sonora Guido D'Arezzo ( pequeno
grande monge nascido na Toscana, em plena ebulição da Idade Média. Guido, criador do sistema mnemônico que sobrevive cheio de dedos - e dados - na história da
pedagogia como "Mão
Guidoniana", fez esforço de polvo para ensinar a transcrição da altura das
notas, transpostas em escala musical). À sintaxe da professora de LPB, a regência de Guido agrega sentidos não
ouvidos, suspeitável parentesco entre tempos
e vontades partilhadas ao fundo das catedrais do saber. Ao fundo, pois que pelas abóbadas pouco celestiais
gesticulam braços estelares, estendidos tentáculos humanos que transcendem o
espaço aéreo das metáforas (escusas contundentes a Paul Ricoeur que, certamente, já foi elevado à tríplice dimensão de
suas metáforas vivas!) e envergam -
quando não vergam sob o peso das
circunstâncias alheias à vontade política - o manto da esperança e qualificação
professoral.
Sol e Fá descem ao mesmo tempo à mesma linha criando a dissonância do
encontro para além do sítio demarcado
na classe ensolarada. Há um lugar para
as notas e uma direção para as linhas. Desfeito o contrato, não há compasso nem
pregas vocais que deem trato ao distrato: brumas desfazem-se ao beijo do sol, ao sopro do vento norte, ao poder das volubilidades humanas,
especialmente aquelas que eclodem em épocas de pouco pito.
Dó e /do'/ , [dɔ] ou apenas dó parafraseiam
as sílabas abertas na caixa de ressonância humana também conhecida pelo nick :boca /'boka/ ou bocaberta
e atingem em cheio o peito da professora. Eis que surge o primeiro tentáculo da
pedagogia humana. E não se pense que a palavra seja simples, pois ao som de tentáculo bailam as possibilidades
morfológicas de juntar na mesma linha, em sucessivas cadências semânticas, os pedaços que fazem da educação
uma infinda tentativa oracular: / tenta+oráculo > tentáculo = esforço divinatório/ ; longe,
muito longe das compensações que a profissão deveria auferir.
Ré está embaixo
do tapete, aguarda a definição de uma região qualquer entre o grave, o médio ou o agudo para
manifestar o alcance do ensino inteligente na classe que o sol inunda. E Lá não fica de fora: adverbialmente
localizado, abraça a professora que
possui braços de estrela, estrela do céu, estrela-do-mar e nem se envergonha do
hífen que vai e volta, vaivém, sem
agradar a ninguém. Ah! Divina ortografia!
Si, em substantiva condição, briga para identificar o acidente - Bb (bemol) - e
permanece expletiva partícula de indeterminação,
agregado reflexivo, apassivador inaudito: claro contraste na alteridade dos
sujeitos sociais, estudantes passivos na escola da vida, até que um polvo os
atinja o coração.
Polvo... o
professor nasceu um: pragmática da
profissão!
* ESTE TEXTO É UMA NOTA DE ADMIRAÇÃO AOS PROFESSORES DESTE PAÍS, EM
ESPECIAL, À PROFESSORA ROSANA MOURA, DIGNA ESTRELA DA PROFISSÃO!
Ivane Laurete Perotti