TERRENOS MOVEDIÇOS
PARCELAS
DA VIDA COMUM
-
a paz é uma guerra ideológica que se alimenta da esperança alheia -
"Os poetas odeiam
o ódio e fazem guerra às guerras."
Pablo Neruda
E se pensava estar
em paz!
Dorme-se!
Parcelados todos
os sonhos, dormir ainda parece ser a melhor forma de embalar o medo de não
acordar. Dorme-se para viver, vive-se
para dormir e, no rol das veleidades insustentáveis, a vida comum lembra um
barco raso cujo fundo não se anuncia antes de afundar. Uma paráfrase da
necessidade humana de "afundar-se" um pouco a cada dia nos meandros nada
aluviais de um sono r-e-p-a-r-a-d-o-r . Mesmo considerando o fato de
que as planícies do sono humano não estão suficientemente maduras para
sustentarem as possíveis variações dos terrenos psíquicos ao feitio do que
ocorre na topografia de um curso d'água. E aí começa a primeira guerra pessoal
contra a paz no mundo! Quem não dorme sofre a tendência de parcelar os fatos da vida
em contas distribuídas ao sabor das responsabilidades pessoais, sociais, como
se tal fosse possível fora do campo das batalhas ideológicas. Se, então, dormir
é um processo necessário para fomentar a paz, estamos todos em estado de
guerra. Ou um, ou dois: o estado de guerra é campo minado por fontes de
água viva, desenhos, sonhos e atrocidades. Como juntar elementos de natureza
diversa no mesmo barco? Parcelando a vida! Atitude esta que aprendemos desde
cedo, antes mesmo de operar com os elementos linguísticos que nos colocam em apoplexia
verbal - derramamento de sangue em poesia continua sendo derramamento de
sangue em prosa, verso e fronteiras da ambição. Os AVCs (acidentes
vasculares cerebrais) também ocorrem na surdina da vida, das noites
insones, no terreno do sono, dos pesadelos e dos fatos políticos, mesmo que externamente
os movimentos em nada lembrem a privatização dos sentidos e... a suspensão da
consciência.
Dorme-se? Não! Parcela-se
os sonhos e alimenta-se a esfera das guerras elaboradas em plataformas de esperança
sem conferir sentido aos sinais previamente anunciados. E, enquanto descobrimos
o fundo do barco, aprendemos a nadar em águas de turbulência calculada por quem
domina o sono alheio e o traveste em investimento sem risco.
Tenho mastigado metáforas
e perdido a poesia. Estou em guerra pela paz no léxico, uma insanidade que sustenta
a insônia à qual agarro-me para continuar sonhando EM PAZ!
Ivane Laurete Perotti
Ivane Laurete Perotti