ESTRATÉGIAS DE UM DESTINO TRAÇADO
UM
DERRAME DE CONFUSÃO
- emocionalismos à esquerda do peito marcado -
"Acreditando apaixonadamente
em alguma coisa que ainda não existe, nós a criamos." Franz Kafka
Uma jovem senhora sobe aos trancos o lugar que a transpõem no tempo
e na esfera da condução social. Legitimada, carrega às mãos, uma bolsa de
enxadrista: peças de madeira crua misturam-se aos objetos de uso pessoal.
Cursada em técnicas de "problemistas", acorre ao tablado da ordem
diária: ordinária ordem de um plano acima do posto. Da torre, por dentro dos
panos duplos da bolsa cheia, a rainha espia: peões aturdidos, embotados,
manipulados e perdidos; cavalos e cavaleiros dispostos em formação de ataque. Sobre
a mesa fechada, o jogo principiado fere as regras ditadas pela FIDE (Federação
Internacional de Xadrez). O tabuleiro, enfadado pelas circunstâncias, invoca o direito de permanecer no canto do gaveteiro empoeirado. Cabe à jovem
senhora lançar mão de sua farta experiência e descalçar-se da obviedade herdada:
estratégias idôneas comungam com a competência do xadrez não dividido em obscuros movimentos, agremiações clandestinas e
falácias empobrecidas. No camarim do
jogo, vestes camuflam as peças em andamento. Mas, vestimentas não impedem o
reconhecimento da persona por detrás
do hábito monástico, nem do uniforme disforme
da cavalaria dasapercebida, nem das
régias túnicas do rei nu. No titubeio,
os peões procuram por um lugar no jogo
obscuro: "... sacrifica uma peça...
ganha uma peça...perde uma peça..."
Emoções exacerbadas suspendem a razão da lógica concreta: " De alguma forma eu lutava contra sensações
que continham pura abstração e nenhum gesto dirigido ao mundo atual." (Kafka)
Lutas inglórias
apontam o destino daquela dama presa à torre dos fatos não passados a limpo.
Rascunhos malcheirosos disputam um
lugar marcado na prancha de trabalho esculpida em pau-brasil (Caesalpinia echinata, arabutã, arubatã, árvore-do-brasil, brasilaçu, brasilete,
brasileto, brasil-rosado, ibirapiranga,ibirapitá, ibirapitanga, ibirapuitá,
imbirapatanga, muirapiranga, orabutã, pau-de-pernambuco, pau-de-tinta,
pau-pernambuco, pau-rosado, pau-vermelho, sapão). Madeira de lei! Resistente
à umidade, ao tempo, ao clima e às pressões , sustenta os lugares manipulados na direta razão de
interesses dúbios - ou claros!, a depender da capacidade de entendimento dos
peões estabanados e do ponto de observação das regras seguidas. " Na tua luta contra o resto do mundo,
aconselho-te que te ponhas do lado do resto do mundo." (Franz Kafka) .
A "madeira da lei" entalha martelos; bigornas do circo armado
incendeiam-se dentro e fora da arena por construir.
Sob o peso dos atravessamentos, a jovem senhora pede um tempo ao tempo para que sejam zerados os
relógios da história. Relógios não param. Ponteiros amarrados por antigas
parcerias impedem o recomeço do sistema engatilhado: ao clamor da necessária
sobriedade, conspurca-se o destino do grande tabuleiro. Lei da madeira ao
relento!
E agora? " Os bons vão ao passo certo: os outros, ignorando-os
inteiramente, dançam à volta deles a coreografia da hora que passa." (
Kafka). Grifo meu, pela indiscutível discussão acerca do que é bom e do que
se faz certo. Certo?
Da torre, a
jovem senhora aposta em incertezas.