ORELHAS DE GATO
O
CONTORNO DOS FATOS
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atos e "gatos" têm pelos nas ventas: fossas da vergonha atemporal -
"Os fatos não deixam de existir só porque são
ignorados" Aldous Huxley
Um caudilho pergunta a
outro:
- Viu a caraminhola do capitão?
A resposta deu-se
pronta:
- Vi, chefe! Pois que permanece onde a deixa: entre as suas orelhas !
O caudilho retruca:
- O que diz? Desde quando tenho orelhas?
- ...
Assim é!
Chefes não têm orelhas ! Têm pernas, mão ágeis e performance verbal que transcende
o poder dos atores consagrados. Contudo, nos palcos erigidos para os massivos holofotes
brasileiros, a demanda dos atos e deixas configuram-se dignos de assombrosa estupidez :
ao bom ator cabe acreditar no que diz, regra básica para convencer a plateia.
Perde-se o jeito - figuras patéticas tartamudeiam discursos pisados - ou
ganha-se tempo? Palavras frouxas, olhos de piedade conspurcada, onomatopeico uso - centopeico? - do pronome
"eles"..."eles"..."eles"... indicador inconcluso,
obtuso e cansativo de uma secreta conspiração contra os inocentes e heroicos representantes
do povo: divisão perigosa de quem se diz
ser quem não é e faz uso do lugar de discurso de caudilho retirante para
justificar o que não foi. Bagunça
textual! Cansativo tema!
Protejam-se os felinos. Os "gatos"
estão soltos e falam em gatês fluente,
apesar das incongruências sintáticas .Toda ação suporta um sujeito, apenas em gatês,
o sujeito oculto vem a público para desdizer o dito e convencer a si mesmo de
que os objetos faltantes não aparecem
nas frases da justiça. Aparecem ! No tempo da sensatez, aparecem! E dão nomes aos bois cujas cabeças estão amarradas em um único sovéu - boiada abatida em família
leva o selo de qualidade quando a carne é
"free" e se permite vender no mercado da perpétua improbidade.
O que dizer das
orelhas? "Os fatos são como os
bonecos dos ventríloquos. Sentados no joelho de um homem sábio articularão
palavras de sabedoria; noutros joelhos, não dirão nada ou dirão disparates, ou
comprazer-se-ão em puro diabolismo." (Huxley)
Se aos fatos, os
rabos dos "gatos" amarram cabeludos pelos, a quem caberá interpretar
os atos? Vendam-se os olhos da justiça, mas ela espia silenciosa por detrás das
pálpebras dobradas e espera na esquina da história pelos caudilhos sem orelhas.
Ivane Laurete Perotti