RASTILHOS
BEIJOS
DE PASSAGEM
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metáforas de uma saudade -
“No
mistério do sem-fim/Equilibra-se um planeta/E, no jardim, um canteiro/No
canteiro, uma violeta/E, sobre ela, o dia inteiro/A asa de uma borboleta.” Cecília Meireles
Na virada
de uma página alojou-se o desejo, mais do que um ensejo, antevista comoção; ao
nascido fora posto, diante do desgosto, intangível compulsão: desvelar o manto
tênue, berço solene, sono de ilusão.
Em nascida trajetória,
roteiro de amor e glória, vazam léguas, outras réguas, desdita alusão; que
segredos se afastam, enganam e desbastam, obscura fascinação: por onde cavalga
a vida, estrada desvalida , falsetes de orientação.
À beira da
noite cega, o céu ergue a fronte, rosto do horizonte, um beijo de adormecer; nos
vincos do tempo ido, a voz do escolhido, murmura em despedida, sopro que vai
embora, insustentável hora, medida do anoitecer.
A morte
carrega nomes, veste e desveste a fome, serve à saudade, múltipla verdade,
ignoto alvorecer.
Antes do
último beijo, aceno do novo ensejo, talvez mais um desejo: a seu talante
retroceder.
Diante da noite triste, cai o véu
do horizonte: rendado, esvoaçante, véu equidistante, fronteira de separação; memórias
sustentam a linha, divisória ladainha, partida de alguém: a vida não rompe o
cerco, refaz-se em duro terço, partes de único bem.
Memórias de saudade choram órfãs...
Ivane
Laurete Perotti