AH! NEM!



SALDOS, SALTOS E ASSALTOS
- no palco do ENEM: provas à revelia –

Para isso existem as escolas: não para ensinar as respostas, mas para ensinar as perguntas...” Rubem Alves

                                      Na “corte brasiliensis” o povo acredita que vai à escola para, na inconclusão dela, laçar à unha o umbral do Exame Nacional do Ensino Médio. É o saldo de estratégias de controle sociopolítico mantidas ao custo de indescritível precariedade.  O ENEM - VEXAME NACIONAL DO ENSINO MEDÍOCRE configura-se na triste comprovação da inconsistência do ensino posto, cobrado e vilipendiado há séculos neste país de acrobatas políticos. À revelia dos discursos pedagógicos, os postulantes à formação universitária se desvelam no registro de respostas teimosas: ruminam perguntas no tabuleiro das filosofias. PEC. PEC. PEC... obscura e tautológica onomatopeia! PEC... PEC... PEC... o salto do poder calça 55!
                                    A debilidade da escola brasileira tem história patenteada no bojo de ações deliberadamente pensadas a fim de manterem inócuos os procedimentos de ensino e aprendizagem. Só não são ainda mais vergonhosas, tais ações, porque no meio do caminho encontram-se professores e alunos. Duas pedras de lapidar. Duas vontades: vergalhões em mar de adversidades. E, por favor, que não se alije a carga de argumentos com “... aqueles ganham pouco...” e, “... esses não querem aprender...”.  Não se alivia a opressão desautorizando o lugar dos sujeitos sociais, e não se nega o óbvio: “Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do voo...” (Rubem Alves). Pássaros que voam pensam alto: têm o mundo como lugar de aprendizagem. Indivíduos oprimidos desativam o impulso para a constituição da identidade social. PEC... PEC... PEC... o salto do poder calça 36!
                                    Que se apertem os sapatos furados, pois as mancas ideologias fustigam mais uma vez os lugares comuns e os baús das prontas-respostas-prontas não se esgotam na pirataria da vida cotidiana. PEC...PEC...PEC...afunda-se o assoalho da consciência nacional!
                                      Ah! Rubem Alves! Cortam-se asas em tenra idade e nem mais se douram as gaiolas pedagógicas. PEC...PEC...PEC...  eis o som do assalto à lei armada! Mas, como todos os dias corre sangue pela história do Brasil sem guerra deflagrada, basta sobreviver até o próximo roubo: rombo na educação+ rombo na saúde = VEXAME NACIONAL.
                                      Não são os postulantes à escola que não sabem respondem, é a escola que deixou de perguntar.  E agora, enquanto durar a atenção nacional – curto prazo, obviamente – não se falará de outro assunto que não a redação do ENEM, os baixos índices dos estudantes, os focos de falcatruas dentro e fora do MEC, o vazamento de respostas... claro! Bom demais se vazassem questões a serem discutidas, pensadas, reconhecidas, desamassadas, ruminadas, focadas, pontuadas e o que mais fosse possível à natureza das questões. Infrutíferas questões! Deixaram de ter lugar de direito e feito. Já nascem com excesso de indicações, macetes, colchetes e conclusões.  Ah! Rubem Alves... quem dera as suas luzes pairassem sobre nós e talvez, quem dera, pudéssemos reler o que deixou em legado: “O caminho da verdade exige um esquecimento: é preciso esquecer-se do aprendido, a fim de se poder lembrar daquilo
que o conhecimento enterrou
.”
                         PEC...PEC...PEC... ENEM! AH! NEM! AH! NEM!

Ivane Laurete Peroti

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