PANELA DE PRESSÃO EM ESFERA GLOBAL
PANELA DE PRESSÃO EM
ESFERA GLOBAL
- spray de pimenta serve bem em canudinhos
-
"Coragem
é manter a classe sob pressão."
John Kennedy
` Cozinhar
em fogo baixo é processo que exige investimento e paciência. Bem o sabem os chefs da alta gastronomia quando
planejam e executam pratos cujos ingredientes exigem especial atenção. Da
cozinha para a política não é um pulo, mas uma vírgula, especialmente em se
tratando de estratégia comum aos sistemas de governo que não dizem claramente a
que vêm. Dizem, mas temperam o dito com especiarias traduzíveis ao gosto da
interpretação livre, que nega legitimidade à formação do discurso. Mesa posta
no globo azul: quantos países hoje são qualificados por aceitáveis índices de
qualidade de vida? Qual o contingente populacional que dribla crises sobre
crises saltando em um pé só enquanto a pressão social sibila acima das cabeças
angustiadas, por entre as necessidades básicas jamais atingidas, pelos vieses
da insegurança corriqueira? Difícil enfocar esse tema surrado e desgastado sem
cair no abismo dos lugares macerados pelas repetições infrutíferas. Sinto-me um
papagaio do verbo gasto. Uma papagaia, para fazer jus ao lado feminino que
ainda, ainda preservo enquanto ser pensante. Sim, pois enquanto ser social,
sujeito de minha história, estou a cada dia mais próxima dos contextos da carochinha, uma vez que estes não tripudiam
sobre a parca inteligência que alimenta meus sentidos factuais. Sinto
dificuldade em dar vazão à razão lógica e estruturada nos caminhos das
reflexões sóbrias. Sobriedade já é, por si só, um vocábulo em desuso, uma vez que
o campo semântico que o abarca melindra-se com o uso sem sentido dado ao termo
na lexicologia atua.
Uma
grande panela de pressão permanece em fogo baixo nos lugares em que menos atenção
se dá às iguarias. Osso duro de roer é a maior pedida: cozinha, cozinha,
cozinha até perder a consistência e a resistência também. Isso quando ele
próprio não se esfacela no largo cozimento ou provoca a disfunção da tampa que
veda os vapores internos. Panela é panela. Controlar a pressão é uma arte. Quem
mexe com fogo, um dia acorda em cama molhada.
A
sociedade planetária, interligada pela velocidade das intermídias comunica-se em sinais de vapor condensado. O sujeito social contemporâneo é uma
síntese precária dos incontáveis interesses que fazem deste pequeno grande
universo terrestre um laboratório comportamental em fase de implosão. Talvez
não! Laboratórios são caixas de surpresa, especialmente em se tratando dos que
lidam com o contingente humano. Confesso que sou impelida a usar outros termos
para descrever a reflexão iniciada, mas temo incorrer em uso inadequado de
vocábulos que servem mais à agropecuária e não ficariam bem colocados em um
texto que já misturou tantos contextos metafóricos. Mas arrisco: entre a
cozinha e a política tem uma porteira separando o gado de corte e o gado
destinado a dar continuidade ao rebanho: fertilidade planejada é um
investimento garantido. É a ótica do crescimento controlado. Justo! Justíssimo!
Justo para que lado da porteira?
Não
é só nosso país que ferve em fogo lento. A prática de cozimento contido é
antiga e todo analista social já usou dessa argumentação para levantar suas
análises nada alvissareiras acerca de intentos reprimidos no leque da
constituição social. Não busco justificativa para dizer se pulei a porteira que
separa a cozinha da política nem para anunciar se estou sentada sobre ela. São
figuras desprovidas de poder nesse exato momento. Mas gostaria de entender se
estamos conscientes do fogo constante sobre o qual assentaram-nos, ou aceitamos
assentar, ou ajudamos a acender... minha confusão é fruto da complexidade
redonda que nos envolve. Redonda e asfixiante realidade que perdura no tempo e
no cozimento.
Hoje, a panela
de pressão se deslocou e ameaça abrir a tampa gasta. Haverá um teto baixo para
contê-la? Não sei. Os contingentes de seguridade e ordem não fazem muito
sentido no placar dos últimos acontecimentos na terra dos igarapés.
Pagaremos para
ver: dentro ou fora do espetáculo, somos ingredientes no bojo da mesma panela.
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