EXOTOPIA REFLEXA...
O PESO E A PENA DA
LIBERDADE : EXOTOPIA REFLEXA!
"Algum dia em qualquer parte,
em qualquer lugar,
indefectivelmente te encontrarás a ti mesmo, e
essa, só essa, pode ser a mais feliz ou a mais
amarga de tuas horas."
Pablo
Neruda
Nos buracos de minhoca de nosso universo pessoal habitam vozes.
Algumas, potentes. Outras, débeis. Muitas sem rosto, sem nome, nem lugar para a
desova dos discursos apopléticos. Todas embargadas pelo poder do espelho enviesado,
fruto do olhar oblíquo de quem acreditamos ser: sujeitos que veem, são vistos e
constituem-se através da imagem formada.
E agora, Mandela? Em quantas
sílabas bradará o povo? A cor da liberdade ecoa vozes surdas em tablados de
madeira grossa. Bate e volta. Faz a curva da esperança e funda sociedades
perecíveis. Natureza própria da ambígua faculdade humana de instalar-se onde
estaciona o bonde da vontade política. Ao feitio prosaico das imagens
refletidas, somos personagens de logias
conectadas por enredos que se extraviam nos buracos
de minhoca. A relatividade geral
prova-se na tipológica hipótese de que somos factíveis. Exequíveis. E virtuais.
Somos humanos! De fato, também somos intangíveis: seres dependentes do que está
posto dentro e fora do círculo concêntrico do ego costurado sobre parcas. Cloto, Láquesis e Átropos tecem
fios, articulam vozes, dobram as penas dos endividados com o contínuum tempo-espaço subjetivo.
Figuras cativas que dançam ao sabor de suposta autonomia.
E agora, Mandela? Por quantos corpos míticos enveredaremos a
constituição da liberdade?
Escavar as perguntas
filosóficas enterradas no sítio dos sujeitos obliterados é uma das ações da
antropologia individual que exige cumplicidade. Cumplicidade e parceria: somam-se
“eus” na matemática moral e nos
depósitos históricos. Júbilo do homem fóssil e do homem vivo: capricho obrigatório
enfrentar o próprio espelho nas faces remotas que perambulam pela terceira
margem da identidade una e múltipla. Olhar de fora é olhar através do outro e
ainda sobreviver à incompletude do encontro consigo mesmo. É ler a autobiografia
em trechos impressos por petições a expensas de múltiplos encargos. Pois, o
peso da liberdade é responsabilidade partilhada na cerimônia da vida. Casamento
perfeito entre o estar no mundo e o fazer parte dele. Base para a indigesta afirmação
de que não se divorciam sujeitos, separam-se identidades amalgamadas em topos alheios: lugares reflexos.
A independência da alma aprisiona o
homem em vestes estreitas e mal talhadas: roupas invisíveis ao olhar do rei
admoestado. Enquanto os inocentes enxergam o que desejam ver, todos nós, nus e
solitários do outro lado do espelho, procuramos pelo abrigo das certezas que
não vêm. Não existe atalho para transportar a densa matéria moral que nos funda
e torna sujeitos sociais, livres e conscientes. O fenômeno é pessoal e intransferível, mesmo
acontecendo na garganta do universo coletivo.
“Sua liberdade e a minha não podem
ser separadas.
(...)”
Nelson Mandela
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