CAVIAR NAS PATAS SUCULENTAS DOS CARANGUEJOS SÓBRIOS
O
MERGULHO DA LAGOSTA INDECENTE NOS BOLSOS SECOS DO POVO BRASILEIRO
“Uma coisa pode ser muito triste
para ser crível ou muito má para ser crível ou muito boa para ser crível; mas
ela não pode ser tão absurda para ser crível, neste planeta de sapos e
elefantes, de crocodilos e peixes-espada.”
Gilbert Chesterton
Fios de
esperança gasta arrastam sonhos sem títulos. Rolam sobre as veias inúteis do
seio pátrio as últimas gotas do suor esvaído no trajeto da indignidade. Vêm de
longínquas paragens e cobram o resgate do sequestro anunciado.
Gemem
os sonhos e os sonhadores. Esgaçam-se os fios tecidos entre homens simples, crianças
queimadas, mulheres doentes, filhos desgarrados, velhos moribundos: todos
politicamente abandonados.
No espaço dos braços trêmulos, eles carregam em
aberto a bandeira da palavra: virtual código da igualdade amealhado no quadro dos
discursos vazios, dos projetos inacabados, das verbas adulteradas, da corrupção
instalada em episódios de farta improbidade.
Não
gritam: choram. Não pedem: agonizam no útero da pátria amargamente surrupiada.
Cena imprópria para a exposição gratuita frente a qualquer ser humano, gente,
pessoa ou o que se valha. O que se valha! Valência
é um conceito que dá à teoria de Tesnière
um sabor de acontecimento verbal na cadeia sintagmática. Diferente do que
ocorre na cadeia dos fatos publicamente constatados: repetem-se ad eternum. Improdutiva e dolorosa
repetição ao feitio de fábulas sem
moral. Passiva civilidade.
Acima dos andantes desvalidos,
entrevê-se a sombra de uma espessa colcha de iguarias: lagostas empapadas em
uísque envelhecido adornam o buffet
de canapés de caviar. Contrastam exímio gosto e exuberante fartura, enquanto
abaixo, refletem-se brilhantes guarnições de cristal nas taças dos olhos
chorosos, andarilhos da história nua. Uma boca vazia, duas bocas vazias, adultério
da saúde pública, educação desigual, seguridade vencida! Fome de decência! O
caviar e a colcha não cabem ao mesmo filho. Pelo menos por ora, nesta terra de
engodos e falcatruas.
Diante
dos olhos cansados desfilam protocolos, cerimônias e sobremesas. Sobre a mesa
dos que, abandonadamente, andam... sobra
a mesa! Descarnada mesa vazia não partilha da glória nem do futebol recheado
em boa vontade política e gastos à revelia. Mesa servida à margem da vida digna
não expõe a toalha nova de linho branco. Óh! Não! Serviços e direitos
dividem-se na aparência dos sonhos e dos horrores. Disseram alguns: atrocidade!
Escreveram outros: licitação imprópria. Contestaram: prática notável do
descalabro governamental. Folia de reis sem fé! Carnaval da impunidade. Farra
da pajelança. Vergonhosa covardia, imprópria alegoria.
Fome de
decência!
Os alimentos para as residências oficiais
emaranham-se em apetitosas patinhas
de caranguejo! Patinhas... patinh... patinhos...!Não se apontem os marezeiros. Não! Estes, servem-se da fome
diante do mangue seco e são mantidos bem longe da rota dos comensais. País de fartos banquetes. Negue-se o absurdo da
informação pouco crível. Chesterton
conheceu o Brasil? Dizem que influenciou Gilberto Freyre! Casa Grande e Senzala? Pertinente! Ou...
atual!
Arrastam-se
os fios da esperança gasta!
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