DRAGÕES SEM ASAS

MARSÚPIOS IDEOLÓGICOS: POLÍTICAS DE ALUGUEL
 “O que faz andar o barco não é a vela enfunada, mas o vento que não se vê.”
                                                           Platão

                                             
                                              Na barriga do dragão acomodam-se pupas. Lindeiras e familiarizadas ao nicho deixam passar à sorrelfa a natureza mítica do ser reptiliano cambiado na intrincada acomodação da própria metamorfose. Artrópodes são fundamentais na conexão da cadeia alimentar. Dragões mitificam o poderio que circunjaz aos sistemas fundantes e prestam um serviço potencialmente coercitivo, tanto nos contos da carochinha, quanto no avançar da carruagem, ou do bonde, ou dos fatos na história contada. Coadunam-se ambos na ecológica separação dos poderes que constituem e caracterizam a organização de um status, salvo o temor pela equivalência metafórica no zeugma elíptico das expressões cognatas. Talvez, sem figuras, a linguagem não amadureça o pensamento abstrato, ou o pensamento abstrato não se revista de roupagem anuída: um eterno devir na referenciação do mundo percebido, quando percebido. Dragões cospem fogo e insetos provocam asco. Da pupa à imago, até que a borboleta nos prove a beleza da cor, vai-se um tempo no endurecimento das asas: um tempo nem sempre a contento.
                                              No reino das inferências, répteis e insetos pertencem a classes distintas, mas tornam-se aptos para acionar as inerências biológicas na mesma corrente de força com a qual as formações ideológicas fermentadas rezam seu curso: indeléveis e certeiras.  Casulos hipotéticos abrigam ideias: sentidos cruzam-se em paralelo combinatório interligando seres e seres. São os laços da interação natural. Estabelecer a implicatura é só um fomento à base da observação plausível, nem sempre signo da imagem que corre sozinha. Mas, esta já é uma questão de distinta ordem: a consciência pode resultar da vontade política posta em ação. Pode! A depender do tempo de maturação, ou do fluxo de paciência envolvida.
                                           Dragões inexistem no seio da urdidura terrena. Sim? Pupas também! Os primeiros mantêm a força da crença instalada, enquanto os segundos, por livre e espontânea sobrevivência imagética, integram o agridoce universo quimérico do crescimento ordenado, planejado, sustentado em bolsões de ideias socializadas. Planejamentos casuístas à parte, nosso popular discurso cobra aluguel ao sujeito social atuante. E cobra em dobro do sujeito assujeitado à cessão de uso e gozo do papel de agente: pluralizações adquiridas.
                                          Não estamos longe dos mamíferos metatherios. As diferenças prováveis ou não, começam na extensão ventral das barrigas políticas que oferecem glândulas mamárias: mais conhecidas por tetas. O suprimento nutricional é o grande divisor do aleitamento indevido, fora do tempo e do saco vitelínico. Em outros termos, sustenta-se a barriga que sustenta o sustentado na cordilheira onírica dos devaneios idílicos: corrupção da realidade verossímil.
                                         Do que se alimentam os dragões? Do medo alheio! Do que se mantêm as pupas? Não se alimentam, permanecem em repouso, pois na ciência da transformação, é no estágio de larva que o futuro inseto se alimenta de matéria orgânica. Já pupa, ou crisálida, dorme em plácida esperança, um fialho tecido no serviço da ideologia dominante.

Há quem passe por um bosque e só veja lenha para a fogueira.”

                                                             Tolstoi                    

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