ESPECIALMENTE DEDICADA AOS QUE ESTÃO CANSADOS...CANSADOS DE ENTENDER!
PEÕES
DO DISCURSO: PALAVRAS DESMEDIDAS
"O desejo exprime-se por uma
carícia, tal como o
pensamento pela linguagem."
Jean-Paul
Sartre
O
efeito plástico da comiserada proposição varou a noite. Não fosse o eco
reverberar os fonemas articulados, a insistência passaria outra vez por entre
as tampas dos ouvidos. Fastio sintático. Repete-se a voz, perde-se o autor. Legítimo é o
ato de redizer pedidos derramados em cantilenas insistentes: lamúrias destronadas,
órfãs em segmentos frouxos, terminantemente inacabadas e presas à moldura fixa
dos queixumes. Mas a escuridão não oferece tropeços ao debordamento das palavras: vozes são lugares de instalação dos
sujeitos pertinentes e dos impertinentes também. Ai!
Sem medidas, as frases amontoam orações
empertigadas entre o crepúsculo e o amanhecer. São queixas de cansaço diante
dos sentidos engarrafados. Medos inconfessos ardem na alteridade pressuposta. À
fonte da livre composição auferem lícitos sentidos: discursos repetidos. Quem diz rediz o dito, não dito e
circunscrito. Novidade embaraçada no movimento coletivo da formação individual.
Um espelho não é uma pauta, uma palavra não é um bojo. Sem fundo, palavras e
espelhos refletem em partes separadas a voz e o sujeito sem peito.
“Seja você mesmo... seja você mesmo...” recita
o papagaio da história! Os homens usam palavras para despojar o pensamento: inconclusa
ação que exige do outro fazer-se presente. Ausente? Conscientes do risco
lambuzam declinações de severa contrição e olham adiante a face torta,
irreconhecível e dura! No outro, os outros comigo também. Saladas de conceitos
devolutos perambulam na formação de quem
e ninguém: pedido perdido nas tampas
do ouvido. Brincar de dizer é um grande perigo! Viu? Não, não viu! Nem escutou o
soar da noite caída aos pés do elástico. Entender e sentir são não faces da
mesma moeda. Sentir gera medo, entrega, vai além do suposto exaurível, do dito
infalível, do comum vaivém!
Aos despidos
de intenção convêm as cantatas: pelas coplas e recitativos dobra-se a língua em
pares seguros, sobre o muro das repetições. Aos nutridos de maior vontade, a
lide de refazer-se ininterruptamente além,
alguém, também... amém!
Acarinhar o verbo deixa marcas nas mãos que
olham o céu. No horizonte das possibilidades, naufragam proposições. Algumas,
prematuras, entabocam na linha da sintaxe escura. Altura! Medo de saltar o muro
das lamentações. É assim a vida dura de quem dorme com palavras e acorda com
frases soltando os botões. Dura vida de quem sente sem entender o que lhe está
além... além... além...
... tem
alguém?
“ Não há necessidade de grelhas, o inferno são
os outros.”
Jean-Paul Sartre
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