RESSURRETOS SEM PASCHO...

RESSURRETOS: SEM PÁSCOA, SEM "PASCHO", SEM ”PESSANKAS”?
  - pelas dobras das escadas tortas, as almas procuram seus pares -

"O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética... O que me preocupa é o silêncio dos bons."
 Martin Luther King

                                     Vai-se outro dia no cardápio dos sentimentos não servidos na vasta mesa da distinção. Pratos trincados negam-se ao suporte da fome transformada em moeda de troca: o poder é potente boca escancarada a soprar vozes repetidas para dentro dos estômagos vazios, dos doentes desatendidos, das escolas puídas, da educação desnutrida, das desigualdades sociais.
                                    Sem pão, sem leito, sem letras, vem de longe o velho circo de lona abrigar os palhaços rotos e tristes. Palhaços esfrangalhados, rompidos, amolambados: artistas das dores sem cores que lhes pintam a alma e o rosto, homens sem postos, sujeitos do que for... que for... inevitável destino do ator.
                                    Desaparecem os chistes no picadeiro sombrio.
                                    O povo paga caro pelo espetáculo imposto: a comédia não brilhará tão cedo sobre o trágico destino das entradas perdidas: desviadas, desvirtuadas, rapinadas, abafadas, furtadas.
                                   Sem licença, a multidão desprovida engole pesada saliva: a lição da abundância arrasta-se através das portas tortas da vontade política mantida no vácuo. Não! Não existe vácuo político; antes, existem campos minados sobre as falsas diretrizes dos grandes menestréis da injustiça. A política é ciência que ocupa todos os espaços necessários à sobrevivência da civilidade. Civilidade? Súplica vontade de nominar os bois deixa o palhaço com a boca cheia de nomes compridos, velhos conhecidos da história cariada. História eloquente: deixou sem dentes os que ousaram contar entre anedotas, as muitas rotas que a justiça tratou de cegar. Pobre palhaço perdido! Fizeram-no acreditar no poder do riso, do texto omisso, da paixão por cantar. Pessankas sem tinta parecem voar nas mãos da audiência: santa paciência sem consciência desaloja o pensar no cesto vazio da Páscoa vendida. Sem PASCHO!
                                    Silêncio na plateia desavisada.
                                    Bons olhos espreitam o ataúde da sorte e rogam diante da morte a esperança impedida. Vozes sobem à testa, mas não descem à prancha: gargantas cortadas assombram a vontade incerta.  O palhaço triste sorri em riste, quase um chiste: não tem energia para estender-se a tantos. São tantos, em prantos, são tantos que de longe lhe pedem: alegre a lona, não deixe a poltrona sem enrolar o tapete do dia.  Vira!, palhaço, a piada está torta, fizeram chacota da nossa alegria.
                                    O sabor do vento espreme-se por entre os rasgos da lona e afasta o cheiro das alternativas.  Aos desgarrados, esquecidos desvalidos nos bancos sujos da arena molhada sobeja o palhaço, ressurreto peão das amargas lições inauditas.
                                  Benditas pessankas! Que aninhem no espaço oblongo o ciclo do CRISTO, e ditem aos brados a novidade despregada da cruz:

                                  “ Vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância
                                    ( João 10, 10)
                                  
                                  Desce a lona no picadeiro vazio.
                                  Quem viu acreditou. Quem acreditou aplaudiu.
                                  Pelo rosto do palhaço, uma lágrima de entendimento arrancara gargalhadas do povo cioso, zeloso por cobrir de amor o ninho que carregavam nas mãos.

                                  

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