MUDANÇA DE TÁTICA
UMA
VERGONHA QUE EXPÕE VERGONHA MAIOR
- o Brasil administra com eficiência o esquecimento dos esquecidos –
Não me falem dos
gastos para com a Copa e seu grande objetivo de integração entre as raças. Empanturrei-me
com os discursos servidos ao gosto de cada interesse. Além disso, minha
estultice é limitada pela vontade e sede de justiça: uma carência até perigosa,
a depender de por onde se pensa que ela começa. Mas sou de paz, da paz e pela
paz, então, basta-me dizer: posso
imaginar que a péssima maquiagem desta...
desta... mundial custa bem mais do que a máscara apresentada. E igualmente nego-me à epifania dantesca dos
egos alvoroçados pelo patriotismo circular, bilionário e de fervor tacanho.
Perdoem-me os que gostam dos jogos em foco. Eu, particularmente e com muita
ênfase, sou devota do desportismo. Sim, devota: ponho fé nas bolas que rolam diante
dos pés descalços, nas corridas de saco e barriga vazios, nos saltos sem vara,
nos saltos à distância, nos jogos quase esquecidos pela disciplina da Educação
Física, ou reinventados pela própria, no intento de fazer a escola mover-se sem
o sonho único de competir, competir, competir. Amo o desporto sem a maquiagem de grande
acontecimento. Não me engano: as mudanças
foram enterradas junto com os objetivos de dar muito aos que já muito têm e
ponto final e desse túmulo, os ectoplasmas fecundos continuam a alimentar
apenas aos confrades de legião. Razão contrária a qualquer conceito de NAÇÃO e
POVO. Povo? Que povo?
Visito muitas escolas.
Esses sagrados lugares nos quais ainda sobrevive o espírito de vontade e de
perseverança, não sem as lutas diárias contra os predadores de ocasião, os
predadores infiltrados e aqueles outros, naturalmente mantidos pelo sistema de “faz-de-conta”.
E valha-me o direito de dizer que este
discurso é enfadonho, mas a raiva atingiu-me a bílis e eis que se derrama o
cálice da repetição. Veneno por veneno, o meu destila-se em poças de espuma:
espuma de impotência manca! A pior delas: espoca, espoca e chega o momento em
que preciso recolher-me diante do inevitável: estou atrás do texto, lugar
confortável para derramar a bílis. Mas não
sem tempo, a política do esquecimento toma-me a boca aberta e sopra-me o hálito
da podridão consciente. Todos estão
cansados de saber que é assim e assim é! Pois, ainda que seja, conseguirei
deixar sair pelo canto da boca apertada que, enquanto nossos jogadores comem o
QUE DEVEM e PRECISAM COMER, as crianças mantidas pelas escolas em regime
integral do estado... também comem! Ah! E como comem! É o milagre da
multiplicação dos centavos: 0,70 centavos por cabeça para manter um aluno de
tempo integral na escola e seu almoço principal. Quero ser contestada. Preciso
que mais alguém tenha cólicas biliares, intestinais e intelectuais e procure os
registros REAIS nas escolas públicas e façam o cálculo deste valor AO ANO! É
isso mesmo! AO A-N-O!
E pasmemo-nos todos em
bom tom: as crianças estão almoçando na escola. Como? De que forma? Ora...
ora...ora... esquecemos que os professores deste país são todos grandes prestidigitadores?
Fazem mágicas? Fazem vaquinhas? Dividem o que têm, tiram dos bolsos furados a
cornucópia da esperança e juntam tudo na mesma caçarola? Caçarola de escola
pública tem a mão do amor e da fraternidade, essas coisitas esquecidas pela maioria de nós, diante do cansaço que diário
que nos leva o pelego, ou que nos mobiliza a correr atrás do que já não nos
pertence ou gostaríamos de adquirir. Coisas da vida normal.
Não tem graça falar
sobre este assunto. É velho, batido, não tem glamour, não gera votos.... ops! Gera
intenção e administração de votos sim, e sim mesmo! Tudo dentro de uma
inteligente, planejada e bem equilibrada plataforma de mão dupla (uma externa,
a que aparece nas bocas cheias de dentes, sorrisos promessas e a outra, aquela
que cabe não dizer para continuar a manter os desdentados no lugar que lhes
pertence: o do esquecimento); para que esses meninos não comam demais e passem
a pensar mais e a querer mais (não que a gula ou a gordura excessiva sejam pró-estudo,
mas até nossos alunos alcançarem esta fase de excesso... ai!!!! Vai longe a
vontade e o medo de que aconteçam!). Ainda, gula por gula, aos glutões que se
faça a oferta de trocar de campo. Eis a proposta para a FIFA: investir no campo
adequado. Vamos jogar a copa mundial nas escolas da vida. Imagino o placar.
Você não?
Comentários
Postar um comentário