DAS LUTAS NA TEMPESTADE
ASAS QUEBRADAS
- diga-se ao povo que, império, é novela global:
soberania dos fatos -
" Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós,
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz..."
Abre as asas sobre nós,
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz..."
Excerto Hino da Proclamação da República do
Brasil
Nesta
via/ nesta via / tem um mote,/que se chama/ que se chama violação,/dentro dele/
dentro dele mora um monstro/ que instigou/instigou segregação.
Cantigas de roda,
hinos, citrinos: entre pedras e laranjas, limões e joias raras, as impurezas
férricas inspiram bordões, alusões eufêmicas às figuras que despontam no moderno
panteão mitológico. Longe de Creta, os labirintos das novelas mundiais têm
roteiros de escancarada imprevisibilidade, ampla escala de impunidade e set de filmagem reais, em tempo de
tornar a história humana uma narrativa inaudível. Crível?
Choram medos as crianças e os velhos,
inesperado assombro, entre os escombros das guerras de alguém. Mata-se a arte,
conflitos à parte, vence ninguém. Obras feridas: descarte, tangidas, interrompidas,
sobejam reféns.
Choram penas, íntimas cenas de grande terror. Escorre o lodo, engodo, miserável lobo tange a dor. Desfaz-se o elo, livre labelo, pequeno botão.
Morre a orquídea, frágil, despida, implora guarida, régio torpor. Do lado de
fora, a alma ignora o peso do medo, o viço da flor.
" Liberdade... liberdade..."
Enterram em luto a fatal paridade, o bem que se nega, a verdade de alguém. Enterram em
chamas, longe da fama, o verbo, a letra, somente a peta, lorota canhestra, mentira aguda, sobrevém... direito de quem?
Foram-se os jovens, instados, chamados em ordens
de virgo mentor; rosto encurvado, leito
macabro, menino acuado, um tempo roubado na tépida espera, robusta quimera, supremo fervor.
As mulheres? Levaram-nas
sem abraçar, pisaram-nas sem proteger:
colheram os ramos da adolescência inscrita, ainda bendita, passaram a vez.
Em que Terra
habita o homem sem nome, refúgio da fome, austero senhor? Em que plano orbita,
mata e agita, a espada do crime, execrável horror?
Coda
aflita, corta a vida, vontade infinita,
vingança do além; lápide lenta, hoje sangrenta, suspende a tormenta até
o ano que vem. Vem aberto, o tranco
do franco, caminha descalço, faz-se notar: a consciência aumenta, aqui jaz resistência, foi poesia, um dia alegria, só
medo, só o medo parece reinar.
Quebram-se asas, apagam-se sonhos, quando sonhar é um lenitivo
obrigatório na preservação da sanidade massiva e voar deixou de ser metáfora aleatória.
"... Das lutas, na tempestade..."
Em grito, longo e aflito, um dito político litiga
sem cor : quem vive de expressar-se recolhe a barba e quem gosta de voar calça
sapatos de cimento.
Silêncio?
"..dá que ouçamos tua voz..."
Texto: Ivane Laurete Perotti