MÃES NÃO MORDEM
OUVI
DE UMA MÃE
-
mães não mordem -
" Boa aula, minha
filha e ESTEJA FELIZ, MUITO FELIZ."
HELEN, mãe de uma estudante de
6 anos de idade
A
frase mote deste texto é uma sonata
para as cordas esticadas da vida presumida quando ir à escola passa a ser um
grande dilema tanto para os estudantes quanto para os pais dos estudantes - deixo para outra coluna o quanto pode ser
ainda mais dilemoso ( termo
inaugurado aqui pela necessidade de juntar etimologicamente o que a filologia
já aponta em sua cátedra inegável: /dilema/ raciocínio que parte de
premissas contraditórias e mutuamente excludentes, mas que paradoxalmente
terminam por fundamentar uma mesma conclusão [Em um dilema, ocorre a
necessidade de uma escolha entre alternativas opostas A e B, que resultará em
uma conclusão ou consequência C, que deriva necessariamente tanto de A quanto
de B.]...com o sufixo derivado do latim - osus /oso/ que indica "força", "extensão"
) para os professores que, também, curiosamente, continuam indo à escola , ou
não!
Pois,
ir à escola em um país que se esforça para anular os investimentos práticos e
filosóficos na formação e qualificação de alunos e profissionais da educação é
por si só, um grande e humano movimento de superação. Superação das pressões externas,
das angústias individuais, das necessidades pessoais e expectativas sociais,
das "garras oblíquas" das cobranças familiares, das intempestivas e
cíclicas motivações internas, hormonais, neurológicas, emocionas, químicas,
hereditárias e lá se vai o vendaval de
associações formando um tornado na atmosfera das possibilidades abstraídas. Ou
abduzidas, arrebatadas de um contexto amargo e infrutífero, mesmo diante das
pseudo-campanhas politicamente orquestradas e bem aquinhoadas de rubricas que recebem qualificativos não mensuráveis
( estou pensando grosseiramente em : roubo, rapina, furto,ladroagem e o mais
que todos sabem, mesmo sabendo tão somente o que nos permitem saber - em
quantias nada saudáveis ao bolso do povo desbancado dos tortos direitos aos
quais paga com o peso da pena em tinteiro
vazio. Excesso de uma nota só? Não! Realismo cáustico, cansaço
epistemológico, estafa histórica e enjoo ideológico, fenômeno este que avança pelo tubo estomacal e atinge o
citoplasma neuronal do sistema cardíaco
da alma pensante - existe essa possibilidade? Não sei e nem desejo certificação.
Uma vez que imagino, basta-me, pois de figuras
rotundas a avançar sobre o leito moribundo do sistema escolar e o medo de
fantasmas ébrios estou cheia até os tampos da racionalidade tardia. O que nega
o ostracismo do medo em câmera lenta é a frase que abre essa coluna: " Boa aula, minha filha... e ESTEJA FELIZ!
MUITO FELIZ!". A mãe sabe o que diz e o que deseja. Sabe, intui,
almeja e expressa e determina uma possibilidade real. Aos imediatistas de
plantão e aos fundamentalistas de capital interesse no progresso pedagógico, ser/estar feliz - especialmente na
escola enquanto meio e contexto para a produção do saber desvinculado de
emoções, interações e fascinações ( outra vez penso e sofro por fazê-lo, pois
pesa-me a atitude e a decisão, quando em minha leitura o espaço escolar esvazia-se
perigosamente do incentivo para a pergunta,
para a pesquisa, para a descoberta, para a experiência científica e não apenas bibliográfica
na contramão do ensino para a repetição de verdades
mensuráveis , cobradas e recobradas em taxas de aproveitamento duvidoso: mea culpa, mea culpa, mea culpa...- pode indicar pouco apreço pelos avanços da
maestria futura, da qualificação para o trabalho, para o foco na manutenção de
metas de longo e duradouro lucro. Mas, se UMA MÃE SABE, outras mães hão de
sabê-lo e, então, haverá lucros no decorrer do túnel: estar feliz/ser feliz
pode ser um objetivo de grande lucratividade, de fácil negociação e de muitas
ações no mercado das pretensões humanas. À FELICIDADE PRODUTIVA, um espaço para
o método natural e simplificado da sabedoria materna.
"Somos o que fazemos, mas somos,
principalmente, o que fazemos para mudar o que somos." Eduardo Galeano
Ivane Laurete Perotti