A FORMAÇÃO NÃO É O LIMITE
MOVEDIÇAS AREIAS DA EDUCAÇÃO
-
no espelho do mundo uma ilusão: estou onde não me vejo estar -
"O que ocorre, de
fato, é que, quando me olho no espelho, em meus olhos olham olhos alheios;
quando me olho no espelho não vejo o mundo com meus próprios olhos desde o meu
interior; vejo a mim mesmo com os olhos do mundo - estou possuído pelo
outro". Mikhail
Bakhtin
Janelas
oculares abrem-se para o espaço comum a duas arenas instáveis: família e
escola! Necessárias? Pro Aris et Focis!
Pelos nossos altares e lares... Qual
delas cederá primeiro ao round das
viscerais transformações propostas pela natureza do tempo e das relações?
Obsoletas armas
carregam ambas no treino para uma
batalha ainda por colocar-se a termo. No quadro das estatísticas subjetivas, gladiadores
revestem-se nas falácias de seus papéis
ativos, encenados em turnos inegociáveis de sujeitos diligentes
- ou não! - e acreditam cumprir com o oráculo dos destinos instalado acima do
bem e do mal.
A idade e a crisálida do conhecimento
formam armaduras, divisórias sustentadas
na crença da responsabilidade consciente (ironia do despreparo): manda quem pensa que sabe e obedece quem acredita-se tabula rasa. Tábuas raspadas aceitam, em
tese, o imprinting da sabedoria que
vem do topo. Impressão da abissal
inaptidão das instituições dispostas na
arena da vida sistematizada em regras há muito, há muito tempo, manquitolas,
vacilantes, e em voraz ebulição : mudanças geram medo e o medo desmascara-se em
variadas formas de tirania - desculpas arguidas no amargo sabor da adaptação
atropelada em poder e metodologias.
Janelas oculares valem-se de pesado blackout - cortinas tecidas em panos impenetráveis
- para impedir o reflexo de ações improdutivas. De um lado
digladia-se pela manutenção das tradições seculares, de outro, briga-se pela
aceitação do novo: no meio da batalha, perde-se o homem e o momento otimizado
em contínuo crescimento.
Palavras
duras estilhaçam-se no horizonte das desleais expectativas e não retornam em bumerangues construtivos: morrem sem
alvo, esvaziadas de poder, mas calam
fundo na alma que as interpela. E então, o duelo muda de lugar: da arena
precariamente externa para o universo
intangível do ser interior. Vozes atingidas e comportamentos comprometidos são
o reflexo camuflado da guerra provável, visível, insustentável: família e
escola jogam areia sobre olhares de oposição.
Comum aos dois núcleos instituídos: o caos, os traumas, o desrespeito, o
desamor e o abandono à sorte que não acompanha os destinos pré-estabelecidos.
Na medicina chinesa, os
olhos estão ligados ao fígado e em mim, ambos apresentam-se com excesso de
vento: os pruridos que tenho adquirido pela dieta do silêncio trazem-me comichão aos dois órgãos. Saturo os
olhos e o fígado! Cansei dos gritos que chegam
com olhares encarcerados em poder de fogo e raiva. Se a família e a
escola não sabe por onde anda, que refaçam a trilha metodológica de seus
fundamentos e objetivos. Afinal, estudar a si mesmas cabe às duas, antes que as
pedras da educação tornem-se irremovíveis.
" Ser significa para o outro, e, através dele, para si."
Mikhail Bakhtin
Ivane
Laurete Perotti