A QUEM INTERESSAR POSSA...
E
AS PRAGAS ALASTRAM-SE
- que o céu não seja culpado pelo que o homem
faz contra a humanidade -
"O que me preocupa não é nem o grito dos
corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética... O
que me preocupa é o silêncio dos bons. " (grifo meu)
Martin
Luther King
Pelos
séculos e séculos vêm pragas e rondam assombros. Aos interessados cabe encontrar
roedores estrangeiros para despejarem a culpa. Por interessados, leia-se, sem riscos de interpretabilidade jurídica,
responsáveis criminosos; por estrangeiros,
não se leia: calar também é mortal! E a ambiguidade é o silêncio pago pelos
discursos multifacetados de enfadonha repetição. De manobras em manobras desavergonhadas este país enterra-se em lama
pútrida. Arrasta à morte o povo desassistido como se não fosse crime matar em
nome de um sistema que protege 1) as rãs: continuidade da primeira praga bíblica, elas
jamais deixaram de existir e preferem reproduzir-se em solo pátrio, solum brasilia (rãs declinam o latim das arábias) , motivadas pelo abundante lodo
político; 2) os gafanhotos: Sebeque - o
deus-inseto do antigo Egito - estabeleceu morada definitiva aqui, difunde-se em pançudos gafanhotos, forma enxames, ocupa o governo desde
sempre para sempre com a garantia de
fartas e contínuas devastações - nenhum
riscos de controle - comem ostensivamente e engordam as patas traseiras para os
saltos impunes. Gafanhotos galgam sucesso e transmitem uma doença incurável transmitida por contato: corrupção! Os ávidos polífagos
também beijam, dormem, defecam ...
mas esta é outra história; 3) as águas em
sangue : o sangue de muitos mineiros misturou-se à lama tóxica que matou Mariana, mineiros que só faziam
sobreviver aos gafanhotos de pernas fortes e aos detritos que produzem e
liberam em águas alheias: alheias aos peixes, às tartarugas, ao meio ambiente ,
ao céu que testemunha o silêncio imposto por interesses conhecidamente conhecidos. Ai! repetição infernal! 4) as chuvas de pedras: o Brasil convidou
oficialmente aos deuses Íris e Osíris para reinarem sobre os elementos
da natureza a partir do Planalto Nacional com honras e méritos. Uai! Claro que
ambos aceitaram! O campo está limpo para a guerra entre a água e o fogo e no Portal
do Cidadão os deuses queimam oferendas em águas temperadas por lava-jatos e outros aplicativos de alto
custo - aos bolsos do povo, óbvio! ; 5) aos piolhos
: esta praga exime a si mesma de metáforas e comentários, mas bem que... vi
alguns hoje cedo na televisão e, que Tot
me desculpe, mas nem ele mesmo esperava por tanto e tantos!; 6) as moscas: moscões,
moscas, picadores, insetos comuns às
áreas rurais e urbanas - e alguém ainda duvida? ; 7) as feridas: feridas na alma, no corpo , na história não contada,
entorpecida, distorcida, desfocada. Feridas marcam o povo brasileiro à bala e à
vergonha, à fome e à ignorância, a medo e a silêncio, à pestilência da saúde,
com o engodo da educação, à negação da civilidade, com o desabrigo...
putrefatas feridas abrem-se às margens plácidas do Ipiranga - sempre estiveram
ali, monitoradas de cima e de longe!; 8) a escuridão
total: é um privilégio para os que veem o precipício e preferem fazer a
volta da ignorância calculada; 9) a morte
aos primogênitos: Êxodos é um livro, ou capítulo que trata sobre o trono e suas veleidades. Primogenitura é a tradição de manutenção
da riqueza entre os dedos da mesma mão, salvo os demais e pertinentes
conceitos. Especificamente no Brasil, esta praga recai de modo torto, ou
adequado, sempre adequado, aos interesses de manutenção do poder entre os
mesmos bolsos. Primogênitos? Com tantas cabeças a prêmio, os brasileiros se
esforçam por acreditar na justiça dos homens, tanto quanto sabem que esta é uma
esperança vã. Rã? Rãs, gafanhotos, piolhos...Não!
As pragas não estão em ordem bíblica e nem estão completas neste texto de um só
parágrafo. Parece coerentemente suficiente
( e tem mais?): este é um texto de ficção! Não é?
Ivane Laurete Perotti