EM MARCHA...

EM SESSÃO, A CESSÃO DAS SEÇÕES

- ordinárias reuniões dão posse a lugares negociados  -

"...Tu dizes que a verdade produz frutos...
Já viste as flores que a mentira dá?"
 Mário Quintana

                            Os sentidos cruzaram os dedos na Casa dos Parlamentares.  Vai daqui, vem de lá, o sistema bicameral muda a língua de acordo com a necessidade alheia. Muda a língua, a língua muda e os discursos atravessam a morbidez do tempo alheado. Alio ao alheio o alheado. Do verbo aos adjetivos sobram acidentes no percurso das frases feitas, mas não se destampa o rombo do alienado - cedem à loucura os vendilhões transferidos de lugar na tumba dos faraós pelados. Não é pornografia o posto no parágrafo. Explica-se, ou imagina-se a possibilidade de suspender a semântica em detrimento da extravagância. Que seja!
                            Com escusas pelos trocadilhos sem graça ou /des/graçados na epopeia dos fatos, este é apenas um prólogo - do teatro grego, indica a primeira parte da tragédia anunciada ( Gabriel Garcia Márquez  não deve ter suposto tal versatilidade para a trama de uma peça politicamente versada em lasanha e...pizza assada em forno de vidro) - ou o que se deseje nomear à vontade de dividir a língua em duas : serpentes da democrata covardia! Bífida língua que não ajusta ao sujeito a necessidade de convencimento imediato. A que vem a língua mãe? As mães não vêm à língua, pois que nelas falta-lhes a corruptela: arraial de garimpeiros em pedaços de terra virgem não conduzem ao berço pátrio. Conduzem? A língua é mãe benta nas tarefas de fazer-se e ser "feita", camaradagem sinestésica à margem da realidade.
                  Todo o cruzamento de sentidos neste lúgubre texto são brindes ao inexplicável, inesgotável, inquebrantável poder das seções - que se dê ouvidos ao lugar de cada marca morfológica nesta tríade fonética/fonológica ( saudade do hífen? Ora, ora, ele se esconde embaixo da assonância curva que permanece no mesmo ambiente linguístico. Vedi ragazza, la pizza che brucia! )  - nas sessões de nossos palradores , contumazes legisladores da secreta vontade de imperar. Aqui dou razão ao meu filho menor e levanto malas e falas ao Japão Imperial: diante da corte real, dobram-se joelhos e canelas, mantas e velas, em adeus à liberdade de justificar a cessão do povo trabalhador. Dai posse àquele que rompe o dia em dia que anoitece. Dai legitimidade ao que planta e vota no âmbito da iniquidade. Dai guarida aos filhos desta vasta terra de poucos donos, tronos de homens e ratos, bandos de gatos, felinos de língua comprida.
                  Lugares negociados em telhados de marmotas são tiros no pé do vizinho, do amiguinho e daqueles todos que se escondem atrás do saco ... de azeviche. Vidro escuro do Parlamento: joias de fantasia polidas a palavras de curto cano. Tudo igual: nada se diz e tudo se movimenta ... para fora do lugar de origem. Recupera-se o sentido? Que sentido ? Aquele que aderiu à boca grossa das desvalias? Ou, aquele que teima em queimar a alma carente, sedenta alma das verdades mal colhidas? As verdades ( se é que existem) não se  permitem  fluvial  plantio; antes,  criam raízes em palanques oficiais como se fossem trepadeiras escandentes. Com dentes, pois à fome junta-se a vontade de esconder as fatias do bolo. Bolo com recheio de mãos gananciosas, cobertura de pouca-vergonha e decoração ao gosto da encomenda. Entenda !
                       Sem compromisso com o ato, falho ato de interpretação duvidosa, passo o prólogo estendido para o causo adiante. Adianta? Que  2016 não prolongue a eclipse social. Espera-se ou adianta-se... muda o fato?

Ivane Laurete Perotti


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