BÍFIDAS ESCAMAS
GÁRGULAS
BRASILIENSES
-
desaguadouros políticos entopem os canos da vergonha pública -
"De tanto ver
triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a
injustiça; de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem
chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser
honesto.”
Ruy
Barbosa
La Gargouille ,
se foi ou não uma lenda francesa a espalhar tórrido medo sobre os aldeões de Rouen, reveste-se aqui de atualidade visceral que em tudo lembra o Brasil às
margens do rio Sena e o seu próprio - impróprio - dragão insaciável, impassível a qualquer forma de exorcismo
judicial.
O Estado Brasileiro - divisão
político-administrativa que deu cria a inúmeros dragões fecundos e vorazes cuja
"ninhada" acolhe a si mesma em "nichos" de complexo
enredamento alimentar - cospe fogo
sobre os candangos espalhados por um território assombrado pela peste da
impunidade institucionalizada.
Quanto engole um dragão elevado ao topo da
cadeia política? Qual o tempo de sua vida útil? ( /útil/ = processo ativo e permanente
de apropriação dos bens comuns tomados a pulso fino e sob os olhares de
aprovação do mercado das negociatas administrativas ad
aeternum, para sempre, amém !) Que extensão percorre um dragão empossado
pelo /de/voto popular na história das
bocarras bem-dentadas ? ( em
obediência à cartilha AINDA não sancionada pela senhora president/a/ da república dos dragões, o hífen
faz-se presente e diacriticamente inverso ao poder de coesão entre palavras e
discursos : Dilma adia...adia a Dilma...é
dia Dilma,alerta a confraria ...Suicídio inútil na linguagem padrão -
padrão? Existe um? ) Parênteses
cansam a vista e o espírito, mas personificam drasticamente ( draconianamente,
e Drácon nada tem a ver com este
texto. Tem? Que se chame às falas o direito do Direito antes que o dia termine) as locuções e os hiatos
disfarçados em comuns pesadelos da população brasileira mastigada em tempero de adiamentos e lacunas
sem tratamento legal. Tudo igual! Nem mesmo a fraca rima sobrevive às repetições
de nossa história hipócrita, abusiva e deteriorada. Dragões da Independência!
Com todo o respeito, chore quem puder ! Pelas barbas ausentes do senhor
Vice-Rei do Estado, a ordem régia de 31 de janeiro de 1765 deve lembrar-nos a
fuga napoleônica que mais tarde reorganizaria a Cavalaria de Honra como resgate
da tradição histórica. Outro apelo ao choro catártico e ao lugar da honra, do mérito e da vergonha neste
país de muitos dragões alojados em intocáveis cavernas de poder. Quando
deixaremos de alimentar as bífidas figuras escamadas que serpenteiam anônima e
descaradamente sobre as nossas costas esfoladas?
Gárgulas
enfeitam o Planalto, mas os canos da corrupção entupiram-se sem mostrar a
cabeça dos monstros que ainda não vieram a furo, nem virão. Claro! A mitologia
é apenas uma forma icônica de escrever os medos e imputá-los aos que devem ser
controlados... e dizimados.
Se a máxima
"... todo o povo tem o governo que
merece ..." diz de nós o que não sabemos, onde começa o pecado e
termina a penitência? Perguntas também cansam, e as respostas não secam as lágrimas
de uma nação tripudiada, e sequer alcançam a fome da ignorância administrada.
"Políticos e fraldas devem ser trocados de
tempos em tempos pelo mesmo motivo."
Eça
de Queirós
Ivane
Laurete Perotti