APALPADAS
TRILHAS
ABERTAS
-
no caminho da humanidade, portas são vãos
rumo às escolhas -
"... não se
represa um rio, não se engana a natureza, faça a represa o que quiser, pois o
rio cedo ou tarde vai arranjar um jeito de rasgar a terra, abrir um caminho, e
voltar a correr em seu leito de origem.” Fernando Pessoa
Ouvi um homem contar petas. Reconheci as
petas, neguei o homem. Mentiras são capas
de engano que camuflam os sentidos não encontrados por injusta inércia da
alma. A bem de uma verdade pessoal, a
inércia da alma lembra-me a escolha por caminhos sinuosos e sem a cobertura da
dúvida. Daí o desejo de dizer em primeira pessoa o que deveria ser regrado pelo
índice de indeterminação do sujeito; faz-se reverência à legítima palavra de
ordem: o eu !
Explico a razão de ter
reconhecido as petas e negado o homem - apesar da aparência apolínea, da barba
ao estilo lenhador que, diga-se de passagem, é o máximo em termos de
masculinidade icônica, dos olhos convidativos e de todas as outras partes ( sic, sic, sic ...) que
interessam ao gosto feminino, o varão não convenceu: as mentiras
identificam o homem, o indivíduo morre com a língua presa no pódio das ilusões.
Com alusões descarada à embalagem perfeita , "...por fora bela viola, por dentro pão bolorento!", senti falta
do conteúdo que me indicaria a trilha para reconhecer a pessoa que falava e reconhecer-me
em quem falava. Uma persona
se apresentava no arraial dos flertes naturais: para Jung, "...personalidade que o indivíduo apresenta aos
outros como real, mas que, na verdade, é uma variante às vezes muito diferente
da verdadeira." e aí, a grande dor: ao reconhecer as petas,
reconheci-me humana e arredei as capas do engano. Quem nunca mentiu atire a
primeira palavra aos ventos do julgamento retórico: a ética fica do outro lado
do muro pessoal - mas esta já uma questão a desvendar-se diante de novas luzes,
ou escuras negações. Gosto não se discute
e legitimidade é uma lorota jurídica quando falta base aos fatos básicos: quem
diz o quê? Legítimo é o direito ao
direito, apenas e tão somente quando há piso
para o teto da informação. Pena!
Ideologias em revogação de dito, ao homem poderia caber a vontade
de escolha. Afinal, portas estão abertas a depender do lado das dobradiças, ou
do ferrolho abotoado. E o eu é um
conceito que permanece à margem da consciência individual enquanto o ser
individual não se reconhece múltiplo. Pena, pena, pena deixar passar ao largo
do arraial aquela pessoa tão dotada de belos atributos externos, mas, as partes que compõem o todo pesam na
balança dos sentidos e mentiras têm dobradiças de ambos os lados. Sem
taramelas, o silêncio escapa como represa em dia de enxurrada grossa. Não há
salvação ! Aquele que se dependura em ilusões, morre afogado em si mesmo e
patina nas rasas visões de quem é ou deveria ser. Ao dizer, compete ao ser
humano tornar público o que lhe vai n'alma. Não há para onde correr: quem se é vem à tona no leito do rio que
corre sempre na mesma direção. Pode-se esconder a força de uma correnteza?"Não se engana a natureza...", não
se corta a chuva no telhado de vidro, não se quebra o espelho das constituições
humanas: somos quem falamos ! Não se
culpe a palavra pelo engano nem pela nudez. Quando nus, permanecemos ainda mais cobertos se o olhar não for de
complacência. Então, se as máscaras
pessoais rondam o espectro da diplomacia, revelo-me em díspares medidas no jogo
da sobrevivência emocional: sem jogo ! Game
ower para a hipocrisia !
Ao belo homem, apenas
uma apalpada no ego imbricado: linda
barba! Potente macho! Mentiras pendem o cacho...
amo as metáforas sintéticas! Diretas! E em especial, aquelas que me revelam as
trilhas abertas para a convivência franca, direta e sem meandros de eloquência
"falastrosa".
Ao Pessoa, o Fernando da sabedoria!
"Agir, eis a inteligência verdadeira. Serei o que quiser. Mas
tenho que querer o que for..." Fernando
Pessoa
Ivane
Laurete Perotti