DO AMOR, SIMPLESMENTE...
PARA NÃO FALAR DE ZIKAS
- endêmicas crises matam o vírus da
poética do amor -
"Amai,
porque nada melhor para a saúde que um amor correspondido." Vinícius
de Morais
Água
limpa em coração aberto tanto bate até que
entra. E quando entra, irriga os vasos modelados nas olarias das crenças: mecanismos de constituição
social que identificam os mapas de nosso comprometimento; armadilhas
conceituais que transitam pela fronteira do plausível; círculos concêntricos
que mantêm-se na ideologia do "acaso" quando racionalizam sentimentos
- se é que tal proeza se faça possível.
Vasos
cardíacos são cumbucas poéticas e, mesmo quebrados, remendados, sem fundo, podem receptar o jorro do amor líquido
na passagem de um estado a outro: amor e
não amor identificam-se pela oposição pouco ortodoxa entre as camadas de fino trato que empoam a realidade de um e
outro. Quando amar e não amar estiverem em paralelos não contíguos, o estado de amor poderá expressar-se em linhas
entrecruzadas para fora dos limites conhecidos. Mas, se as crenças rondam a
pele dos sentimentos reprimidos - e elas
rondam, ocupam espaço, determinam medos e rejeições, negam-se às entregas lúdicas,
mancham as paredes dos olhos epiteliais ... - enquanto os vasos alinham-se em antecipação às dosagens
perniciosas - como se o amor se apresentasse em porções cristalizadas com
rótulos de mais ou menos letais ( ou é letal, ou não é
letal!, mas na retórica da paixão, a loucura é uma constante necessária!) - pode-se
pintar palavras em todos os níveis morfológicos e ainda assim, ainda assim, amar não será jamais um verbo transitivo
direto. E menos ainda, pronominal. Culpa
da gramática normativa! Culpa das crenças sobre o posto, ou o dado a conhecer fora dos limites normativos.
Culpa do medo de tentar, da necessidade de instalar esquemas de segurança onde
a segurança é uma fértil justificativa para a covardia.
Quando a água limpa
bate e entra, os vasos abertos derramam flores. As pétalas da alma embebida em
amor são translúcidas e não refletem a sombra de antigos remendos; remendos são
cicatrizes apagadas no cadinho da novidade conhecida. "Com as lágrimas do
tempo e a cal do meu dia eu fiz o cimento da minha poesia." (Vinicius de Moraes)
Para não
falar de Zikas é um texto com os pés - as mãos? -
nos sofismas argumentativos, não para indicar direções difusas na tela das
falas, sim para provocar uma rachadura nas considerações que cercam o cotidiano
de nossos interesses. Que as Zikas,
venham elas de onde forem, desnudem-se diante da vontade humana, na livre
escolha para estar onde se deseja e não onde desejam que estejamos. O vírus do
amor prescinde medicação, hábitos e dosagens; antes, exige abertura para a vida,
inteligência para o reconhecimento dos
sintomas, aceitação de um novo perímetro e, especialmente, entrega sem
exigência de endereço fixo. Poético demais? Demasiadamente poético ... talvez!
Mas a Zika promete apenas incômodos e,
mesmo assim, consegue a atenção de todos neste planeta carregado de
estatísticas insalubres. Se o vírus da família Flaviviridae colocou o mundo aos seus pés - essa
"coisa" de membros está
desdobrando o meu discurso em fálicas tomadas : frames identificados, claro!- então, que se dobrem os sinos das
possibilidades subjetivas e se dirija uma "poiesis"ao amor, pois essa capacidade também a possuímos, ainda!
"Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente." Vinícius de Morais
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente." Vinícius de Morais
Ivane Laurete Perotti