PÚBIS PÚBLICO
MÁSCARAS
DE UM LADO SÓ
-
nascem ratos na terra dos homens-
"Os fatos são
inimigos da verdade." (Cervantes)
O esmeril
da vida agarra-se aos resíduos salientes para avantajar os montículos da
história: todos no mesmo lugar. Nem
pedra de polimento, nem destino escrito no rastro das estrelas: viver é um
exercício de justificativas cujos fatos primários escondem-se em fantasias sem
retoques. Vírgulas abertas: os fatos e as fantasias valem-se da mesma alegoria.
Daí a importância saliente dos resíduos que parecem sobrar na ação de atrito da
"coisa" - tome-se lá o substituto desejado para relocar na coisificação implicada neste dito ( como se já não o fizéssemos natural e
espontaneamente !) - contra os abrasivos que a tornam mais polida, mais
adequada, menos imperfeita. E na contramão dos ventos, vem o resultado
alcançado em vias duplas, triplas... se as "coisas" brilharem aos
olhos alheios, homens e ratos podem ser atraídos pelos raios da cobiça, essa
máscara que se vende como interesse prodigioso
ou feito valor de mercado ( aos incautos , o poder das sombras internas
negam-se descer da arquibancada na qual assentam os verbos da ganância ): "A inveja vê sempre tudo com lentes de aumento que transformam pequenas
coisas em grandiosas, anões em gigantes, indícios em certezas."
(Cervantes)
Houve um
tempo, há muito tempo, no qual aos ratos cabia permanecer nas sombras lúgubres
e úmidas dos esgotos saburrentos. Por ausência de vontade política, ou esparsos
contingentes de condições sanitárias, os mamíferos roedores galgaram status cosmopolita e pululam ao nosso
redor, em um contingente de praticamente quinze ( 15 ) animais para cada
habitante deste planeta de muitos lugares. Diversidade à parte, às legítimas
ratazanas pertence ainda a capacidade de nadar - nadar! à moda dos tubarões (
só posso pensar nessa figura das grandes águas em detrimento do sentido que
gostaria de imprimir ao texto: uma tentativa !). Os ratos não toleram a fome e
são, eca! eca! eca! e são repulsivamente coprófagos
( melhor não explicitar essa condição, apesar da vontade escatológica de
fazê-lo). Entretanto, ( essa
palavrinha permanece na contramão das conexões com argumentos tortos e até consegue ser ensinada nas escolas como
sendo dica permanente (sic) para
escrever bem (sic) nas redações do ENEM!(sic)
mas, essa é outra história e ainda depende da ação de um bom esmeril ...), entretanto, há de se lembrar que
os ratos não existem em ambiente selvagem: eles dependem de nós, humanos e
migram nos mesmos padrões de nossa urbana vontade com a inverossímil - e
provável - capacidade de revirarem-se em labirintos e tubulações de pequeno
raio. Que raio! "Elimine a causa e o
efeito cessa." (Cervantes). Que se aplique Cervantes! Aqui, no
Planalto, na quarta-feira de cinzas ( pois de cinzas estamos fartos!), nos
púbis publicamente alheios - afinal, porque a região pubiana alcança tanto
destaque no carnaval brasileiro? Se os tapa-sexo fossem colados nos lugares
naturais de nossas "vergonhas" acumuladas, jamais esconderiam os
pudicos pecados da nossa ignóbil intransigência.
Que raio! Esmeril
no Brasil de tantas máscaras, ratos e púbis destronados! Pois, na anatomia dos opróbrios , em existindo a anatomia e o ultraje, os desatinos começam mais
acima, com inferência e destacada instância para o endereço da consciência no
labirinto dos neurônios. Possível? Se a consciência é um conjunto imaterial de
montículos conceituais resultantes do esmeril moral , se... as substâncias
abrasivas estão perdendo a capacidade de provocar atrito. " A pena é a língua da alma..." (
Cervantes). Que raio!
Ivane Laurete Perotti