TARAMELAS DA IMPROBIDADE
PORTAS ABERTAS À
INTELIGÊNCIA
- qualquer duto de repressão tem entradas e
outras saídas -
“A
dor, o prazer e a morte não são mais do que o processo da existência. A luta
revolucionária neste processo é uma porta aberta à inteligência”
Frida Khalo
Negar o direito ao próprio grito é
tão grave quanto afogar um sorriso: natimortos na cordilheira das negações. Gritar sorrindo é uma heresia musical,
mas possível aos habilitados. Sorrir
gritando é uma nota licenciada pela estética das convenções: hipocrisia no
cardápio dos temperos amargos. Temperos e sensações trespassam verbos na
esgrima dos discursos vulcânicos e as portas políticas têm dobradiças de língua dupla: eu e tu
dialogam em grito catatônico, saudável aos interesses massificados, ou
comportam os dizeres sociais, imprescindíveis à inteligência dos recursos
equitativos. Em que trilhas ágrafas perderam-se os últimos?
Um muro
de vergonhas separa as mobilizações no
útero das diferenças que fatiam o Brasil sobre a tábua do pão ázimo: não conversam
entre si os eflúvios de empoderamento
das minorias. O manto da democracia brilha só, isolado nos trópicos
desencarnados: Yo nunca estuve tan seguro!
Ironia dos fidalgos, filhos de algo,
por detrás dos dispositivos de segurança - teúdo e manteúdo contingente das sobra/s/de guerra, interna guerra que
José Onofre, em 1982, reviveu nas páginas de sua obra-prima. O "país do eu
não sabia", " naqueles anos estúpidos (...)" ainda é o país dos
silêncios entalhados em anos e anos de repetidos erros e dilatadas corrupções.
1964,
2016... um hiato na memória condiciona versos de eloquente verborragia:
fecham-se as portas escancaradas no caos da improcedência. A pressão nas ruas
está oca de saberes e direcionamentos. Os dutos do encurralamento estrangulam
os brasileiros marinados em fogo baixo: acostuma-se mais facilmente às mazelas
cotidianas do que às dádivas do viver
qualificado. O suor marcado lava as faces dessa terra eivada pelas histórias
mal contadas: ganha um conto quem
volta ao princípio dos fatos. Atos? Injunção de prerrogativas, barbas de molho
não se apuram: ulceram-se. Barbas e orelhas não levam pontos, mas padecem do mesmo mal: o esquecimento de seus portadores
...“Nada é absoluto. Tudo muda, tudo se
move, tudo gira, tudo voa e desaparece." (Frida Khalo)
Nas
dobras do manto seboso, um cadete esbarra a antiga baioneta: os nós do tecido
político abrem-se em rotundos rombos - Cyperus
rotundus . Decocção! As costuras de linha podre não resistem à primeira
cutucada. Em formação, o soldado assusta-se e deixa o posto. Deserção? Abandonos não são prerrogativas das forças instituídas
por um Estado de fato. Mas, de fato, a um Estado cabe jamais abandonar a
legítima constituição de sua natureza política.
Estado Novo? Novo
Estado? Quem dera a situação brasileira independesse da colocação de um
adjetivo e nem fosse Getúlio Vargas lembrado como a única porta às memórias desmemoriadas
de nosso povo: ad eternum banho-maria.
Vai outro grito aí?
Ivane Laurete Perotti