ENVERGADURAS DO VERBO
POR
UM FIO
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a vida escorre no vermelho: falências anunciadas -
“É um império
essa luz que se apaga
ou um vaga-lume?”
essa luz que se apaga
ou um vaga-lume?”
Jorge Luís Borges
Acostuma-te, dizem.
Resigna-te à ditadura das circunstâncias. Curva-te diante do inalterável.
Anda em prévio luto pela
volubilidade da vida: instável dádiva. Milita o avesso da esperança e não cries
expectativas infundadas: nem sobre a existência, nem sobre a qualidade dela. As
escolhas são impraticáveis no plano da realidade crua. Dizem...
Aprende desde cedo sobre o
teu ínfimo lugar: és a roda que movimenta o consumo das inverdades e sequer
saberás o preço devido pelo conformismo. Jamais sentirás que “... Tu és o dono de um espaço cerrado como
um sonho.” (Borges) e a vida te deu o direito ao pertencimento.
Tu poderias falar, mas
acreditas que te calam a voz. Tu poderias criar, mas não vês outra senão a
forma acabada. Tu poderias pensar, mas esgotas as possibilidades de sincera
vontade. Dormes o sono profundo da dessensibilização.
Pronto! Eis a escrava
condição do sujeito situado fora do círculo mágico da vida, um dos conceitos
para as múltiplas faces da morte. Se “A
morte é uma vida vivida...” e a vida é
“... uma morte que vem.” (Borges), o poeta ainda vive. Imorredoura é a
vontade. E para ela, a vontade, bastaria um pronome: “E mudo até o tratamento: por que vós,/tão gravata-e-colarinho, tão
/vossa excelência?/O você comunica muito mais/e se agora o trato de você,/ficamos
perto...” (Carlos Drummond de Andrade).
Antes que o tu se recolha por completo e a Vossa Excelência retorne para o lugar de
onde veio, vaga-lumes a esmo desvestem a casaca do império. O tempo do bom
senso pisca ao longe e a Prece do
Brasileiro do sempre Drummond reveste-se de atualidade. Uma crônica frente
à crise anunciada: Viva o Povo Brasileiro!
Aí, com o perdão literário, foi a vez de João Ubaldo voltear com estilo as
nossas raízes.
Borges, Drummond, Ubaldo...
homens de peito! Histórias de vida e morte. Morte em vida. Vida na morte, sem
banalização
Envergaduras do verbo viver e morrer são figuras de linguagem na corda
das palavras. Onde vive o brasileiro,
vivia também a sua vontade! E por vivia, vai uma metonímia de sobremesa para
o antepasto das massificações: ...tu
poderias falar, mas acreditas que te calam a voz!
Ivane Laurete Perotti