LOAS
CAÇANDO
O AMOR A UNHA... (primeiras considerações)
“Deus,
para a felicidade do homem, inventou a fé e o amor. O Diabo, invejoso, fez o
homem confundir fé com religião e amor com casamento.”
(Machado de
Assis)
_ Casamento dói?
_ Que pergunta sem
noção, filha!
_ Dói, ou não dói!
_ Filha! Sem graça
falar assim de algo tão sério!
_ Então, dói!
_ Você não sabe do que
está falando!
_ Mas, você sabe!
_ ...
Quando a
prosa atravessa as incorpóreas alamedas da poesia, os versos encolhem-se diante
da aguda força do acontecimento linguístico. Afinal, fatos são fatos e a
poesia, bem... a poesia pouco ultrapassa a compreensão estética de alguns
abençoados sensíveis - talvez mais sensíveis do que a própria pena que carregam por sê-lo - e se
mostra sem mostrar-se, possivelmente contrafeita de sua natureza frágil e
intangível. Obviamente, estas são justificativas grosseiras que intentam estabelecer
uma fronteira factível entre o sentido
e o expressado. Tolices de uma tarde
de domingo. Exercícios sem fundos na guarida do livre pensar. Livre? Nem livre
e nem puro: grande, denso e profundo é o caldo
onde se misturam as ideias que acreditamos alimentar acerca das
manifestações vividas e absorvidas. Nem um nem outro: jogo de palavras
amalgamado com a ironia da provocação diante de quadros esquadrinhados pela
realidade retórica. Pinturas sem fundo
quando o assunto não se delimita em área sustentável. Casamento e religião não
se discutem. São atos politicamente marcados pelo sistema que os consome, ou
sustenta, ou institui, ou... funda e afunda!
Atire a primeira
frase aquele que já se tenha deleitado frente à sonoridade ofuscante de uma
poesia sobre o casamento. De-lei-ta-do! Nada a ver com dei-ta-do! O particípio
é uma cruzada de pernas que protege quem diz, uma vez que todas as
possibilidades são aceitas, desde que provadas em contrário na elegância das
escarpas estatísticas. E por tratar-se
de escarpas, fazem-se presentes em todos os átrios do comportamento humano.
Seria a poesia um elemento tão diáfano quanto o fugaz sentimento que a
ultrapassa na métrica dos versos calculados? Ou somos nós, humanos, facultados
de ínfima capacidade para dedicar loas
ao lado concreto e repetitivo da vida comum? Seria o comum da vida material não substituível pelos lânguidos movimentos
das estrofes enviesadas? O que seria de
nossa alma efêmera sem a mão da subjetividade metafórica, dos desvios figurados,
das sílabas cantantes, das interpretações ricas? O que seria do casamento sem
as suas regras para serem deliciosamente subvertidas a favor do ostracismo de
um e de outro? O que seria da religião enquanto instituição se os fiéis
seguidores descobrissem a inusitada instância da fé?
Nego-me a
concluir este texto... por enquanto!
“O amor é grande e cabe nesta
janela sobre o mar. O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar. O amor
é grande e cabe no breve espaço de beijar.” (Carlos Drummond de Andrade)
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