NUVENS DE SANGUE
NUVENS
DE SANGUE
- uma guerra sem fronteiras -
"O patriotismo é o ovo das guerras."
(Guy
de Maupassant)
Quando o
menino levanta os olhos, deixa de ver o
que nunca existiu: a paz é uma ilusão sem máscaras e se despede ainda no leito
da criação. Fugaz sentimento do não existente, mas desejado, sentido, almejado.
Brisa de cores brandas, bandeiras sem haste, sonhos de igualdade no dorso da
manhã.
Quando a mãe
levanta o filho, enterra a esperança de
nutri-lo em solo cálido: colos roubados vazam a
rota dor do leite perdido. Mulheres amarguram a natureza despida de sua
condição. Fecundar é alimento para o império das turbas. Deixar de fazê-lo é
injúria à vida fértil. Morre a semente no calvário da longa espera: paz?
Deveras! Deveras! Alguém assim quisera... outro plano de engano, expurgo
leviano, antes fosse só mais um: homem insano, só mais um, no eixo de tantos
outros homens profanos.
Quando as explosões anunciam o medo e a morte,
lágrimas de sangue escorrem livres pela história maculada. Tomba a vida e
triunfa a destruição, insana sina que de longe marca funesta retaliação: quem não
começou o fim, também não chega até ele para a coroa de pedras, falta-lhe o
chão. Sepulcros ao ar livre não atrasam as bombas, não silenciam as sirenes de
poder e facção. Invasão!
Diante da guerra,
afastam-se os polos inclementes: não se ausente! Não se ausente! É fria a dor
do inocente... é vasta a noite escura que, intrusa, derruba a casa , aba sobre
aba, telha sobre telha, deitando escombros no ventre túrgido da indefesa parturiente. Não se ausente, nem
rogue pelo milagre de ser mais um
indiferente.
Quando a
guerra serve à mesa, alguém a instigou, construiu, nutriu, arquitetou degrau por degrau no malho de soberbo ódio, no
encalço de infeliz poder, na ânsia de varrer
verdades outras espalhadas no território do terror .
Quando a
guerra bate à porta escancarada, há muito os homens já terão desistido de lutar
pelo que é justo, comum, digno e meritório e sem mais tempo para remendos,
abre-se a cuba das lamentações.
“Que
ninguém faça ilusões de que a simples ausência de guerra, ainda que sendo tão
desejada, seja sinônimo de uma paz verdadeira. Não há verdadeira paz senão vier
acompanhada de equidade, verdade, justiça e solidariedade. (João Paulo II)
Comentários
Postar um comentário