À DORÊ
ESTIGMATAS EM DECLÍNIO
- manifestações à dorê: herança mítica -
“Os preconceitos são a
razão dos imbecis.”
Voltaire
Saúde!
O
preconceito, finamente enterrado sob camadas de maquiagem líquida, engasta-se às raízes de imbricadas heranças:
" O sol nasceu para todos, mas apenas alguns podem usar chapéu". E
renova-se na gama semântica das possibilidades interativas. Ciclos sociais não
apaziguados? Folclore: apenas sabemos mais hoje sobre o que acontece do que
deixou de acontecer realmente o que não sabemos.
Na rede
entretecida que conecta o mundo em dimensões tribais, os
alocados
transeuntes do planeta Terra brindam à evolução folgada que a ciência alcançou.
Pináculos de otimismo acadêmico invadiram o mundo anfêmero, cotidiano,
rotineiro, tornando a vida mais vivível. Inegável,
mas contraditório e até nefasto em alguns casos: o princípio que norteia a
mesma evolução não se alastra para o mundo da subjetiva - e questionável - natureza humana.
Arremedos de
educação não chegam a balizar os valores que deveriam sustentar o movimento
antropológico do ser humano. O que é
novo nesta história? A vontade expressa de alguns poucos que se destacam pela
vontade de comungar o conceito de sociedade moderna. Contemporânea. Atual. Talvez!
Quem sabe, mais atual do que moderna. Varia a cultura, a época, o tipo, o
lugar, e parece caminhar junto a evolução de estigmas encruados na vivência
social, como se tivessem vida própria, autônoma e apenas esperassem o modus operandi de cada tempo se
personificar. Raízes expostas, limites e diferenças sangram diante do espectro
indiviso: a força de um preconceito tem o poder de alvejar a alma, quando não
mata de imediato o objeto de estigmatização. Até que um choque cultural consiga
abalar tais raízes, elas permanecerão inalteráveis, materializando-se
diariamente para fora da caixa de nossos sentimentos de falsa normalidade.
Singular é a
tarefa do homem que prescinde das diferenças para esconder o medo e a
fragilidade. Incompletos e diferentes, somos atravessados por interesses de
manutenção da vida: ou não? Cabem apenas
as distinções, as dissemelhanças no cadinho das vivências para tornar o homem um
ser imprevisível. O que esperamos do outro? Que lugar ocupa o semelhante tão diferente ao ponto de
mover e envolver emoções massificadas em conceitos de extração? Não aceitar as
diferenças é negar-se diante do espelho. Tão simples quanto impraticável, na
maior parte dos roteiros pré-estabelecidos por ideias de elitização. Simples e
triste, tão triste quanto a perda das noções mais primárias de nossa condição
transitória, efêmera e provisória.
Saúde! Que
brilhem as diferenças no corrimão da história e independente de crenças, raças,
sexo, costumes, comportamentos, opiniões e normas, a noção de pertencimento nos aproxime com urgência para
derrubar o muro quase, quase em declínio dos estigmatas de ocasião!
“Sonho
com o dia em que todos levantar-se-ão e
compreenderão que foram feitos para viver como irmãos.”
Mandela
Texto: Ivane Laurete Perotti
Texto: Ivane Laurete Perotti