MELECAS POLÍTICAS E DESPROPÓSITOS LINGUÍSTICOS
CACAS
E CAQUINHAS
- manchas semânticas na infantilização
discursiva do poder -
" Quando a palavra falta ao homem, não
significa que desconheça o léxico da língua mãe. Antes, pode estar
inteligentemente buscando justificar-se no manhês de todos nós que deve
ficar à época que lhe é pertinente: a primeira infância." Ivane Perotti
Uma vez que se ausente a voz do povo, não há
velas nem santos para o choro que se atrela. O purgatório é aqui: Carontes afundou a barca e São Tomás de Aquino - o Doctor Angelicus - amarga
entredentes a sua teoria acerca da ética e da política. Ventos de uma filosofia
vã e vexatoriamente adequada aos calcanhares dos maiores interessados vinga no
Brasil - colônia de poucos - e, no mundo das guerras agendadas, - tabuleiro de
xadrez onde apenas os peões pagam a prenda. Claro! A história não ensina e se
repete, em ciclos concêntricos de força e desfaçatez.
O povo anda a pé, em pé e de pé. Quem o representa voa! E
voa bem acompanhado sob os ajustes desvairados
que continuam saindo do bolso já vazio do mesmo povo que anda a pé e... em
silêncio! Pesado silêncio ilustrado em labirintos de muita "caca" - expressão validada no
universo do manhês produtivo e carinhoso que as mamães usam para
com os seus bebês. Ai! Não quero, não quero... QUERO! QUERO! QUERO FAZER A ALUSÃO
DIRETA a uma implicatura de contexto no uso improvável que aconteceu na
terça-feira passada, quando o ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da
Silva afirmou: "... o esquema de
corrupção na Petrobrás foi uma caca cometida por um pequeno grupo de
pessoas dentro de um universo de milhares de trabalhadores da estatal."
Ah! Senhor ex-presidente, usar o papainhês
- derivado ou antecessor do manhês?-
para cima dos trabalhadores que jamais poderiam colocar a mão na caca? Os trabalhadores, trabalham (
tautologia necessária e linguisticamente intransferível )! O povo trabalha! E
quando faz caquinha - e sempre existe
a possibilidade de uma caquinha aqui
e outra lá - a justiça age, senhor
ex-presidente e, as celas deste país juntam no mesmo espaço os cacaquentos de pouca monta. Sim, pois os cacaquentos de muita monta continuam a
receber as benesses que as grandes cacas
permitem: marmitinhas com tiras de salmão defumado, água francesa, sabonete
gaulês, lencinhos perfumados... e estes últimos não são suficientes para limpar
as devidas cacas. Ou são? Não sei! A infantilização dos discursos vira-me o
estômago e bem que gostaria de ouvir
outras bobagens de mesmo tom para ver até onde a acidez verborrágica aporta do
intelecto ao intestino. Mas aí, a conversa pode mudar o rumo da prosa: a quem
interessar possa, estamos todos sujeitos a evoluir para cacas sociais,
semanticamente bem colocadas diante de um povo que é nivelado por baixo. Não
somos crianças de colo, senhor ex-presidente, e em podendo escolher, talvez
desejássemos que o discurso populista nos poupasse desta tangível farsa
linguística.
Quando o respeito
ao lugar político de cada ser humano neste planeta servirá de bandeira a quem se
instala em lideranças governamentais?
Não nos cabe mais a vergonha do
silêncio. Levaram, levam e levarão o que deveria ser entendido como recurso de
uma nação para manter as fronteiras de seu crescimento. Enquanto se justifica
as cacas que caíram fora dos cueiros - sem pensar em todas as outras melecas que permanecem higienizadamente
escondidas em local adequado - os pés do
povo incham, racham, e sangram na
carência de decisões políticas minimamente democráticas, civilizadas e honestas.
Aos
interesses de poucos, movem-se os demais e esta é também uma forma de instituir
a falência da cidadania.
Para uma liderança
sem cacas!
" Gasta-se o verbo para não dizer: outra forma de usar a língua e
fazer calar os interlocutores desarticulados. Prova cabal de que quem nos governa
acredita realmente no poder da educação ausente." Ivane Perotti
Ivane Laurete Perotti
Ivane Laurete Perotti