FALANDO EM LOBOS
FRASES DESPIDAS E ARRANHADAS
- do despudor à vergonha sem freio: o que se
ensina vem de baixo -
"Uma nação de
ovelhas gera um governo de lobos."
Edward
Murrow
E, na
ponta da vara curta, um governo de lobos investe na permanente
indolência de seu rebanho em apriscos cuja carestia calculada é retorno de
controle. Os cabrestos são ferramentas sociológicas de longa data e retorno
garantido; lançados às arenas sociais com sovéu curto, grosso e bem trançado por hábeis mãos políticas,
mantém a população sob o véu da xenofóbica esperança de que, ser brasileiro é
uma prerrogativa divina. Deve ser! Tanta paciência não pode ser explicada por
nenhuma teoria terrena. Não dá. Nem as ovelhas deixam de balir diante do
incômodo caminho pedregoso. Vão, mas reclamam.
Tenho
encontrado pessoas e lugares, lugares cheios de pessoas e pessoas de "saco
cheio dos lugares", tenho procurado, por necessidade particular, lugares: instâncias sociais e humanas de
interação comum, já que transitar por lugares
não dá a certeza de encontrar seres humanos, o que poderia ser uma
consequência direta de minha busca, mas não o é, enfim. Triste sina de quem
acredita estar entre iguais. Mas o cabresto tem função colateral - premeditada
e estatisticamente esperada- aperta a nuca e o povo guiado, ao contrário das
ovelhas, desenvolve o complexo lúpico seguindo
o fiel exemplo daqueles que lhe são exemplo e, mesmo pertencentes ao rebanho
conduzido, os lobos ad hoc assumem os
seus lugares de pequenos lobos com o poder nas patas. Não sei onde fica o poder
do lobo, se é nas patas ou nas orelhas, mas pelas arranhaduras que tenho visto,
a primeira versão deve ser a mais verossímil. Basta deixar que alguns de nós
assumam pequenos lugares de poder, basta! A síndrome, o complexo, a natureza, a
necessidade de ir à desforra social é inevitável - ou não! Procuro um rasgo
despido das marcas preconcebidas que exponho aqui, mas não as possuo no momento
atual: valho-me de material extenso e amplo, material de campo, campo de guerra
diária, diária guerra entre as ovelhas do aprisco controlado.
Panelaço,
paralisação, balas de borracha, cacete, lavagens e lavagens, operações e arrastões, conspirações, lá vamos nós,
lanudos e lenhados à espera da próxima tosa. Não imunizados para o canis lupus que habita em todos nós, o manifestamos na
família - pai/mãe luposos não
conversam, mordem -, no trabalho - chefe lupínico
só gosta de ovelhas concentradas, mesmo que inoperantes ( até ele descobrir a
improdutividade do corpo presente e da
mente ausente ), na escola, os lobos, os lobinhos e os lobões marcam território
de dentro para fora da sala de aula, na saúde... bom... na saúde, os lobos
pelados não assustam, tanto quanto não assistem. E sem ambiguidade, ou cheia
dela, os pacientes esperam, esperam, esperam e, às vezes, não morrem. E sobre a
pele cadavérica, vivamente cadavérica deixam ver as ranhuras cicatrizadas, as
várias patas do canis lupus, instituído
em seu lugar de poder pela aquiescência das ovelhas arrebanhadas, controladas e
quase, quase saturadas. Pelos demais aquecem o cérebro e, mantém eterno o ciclo
do comando no aprisco restaurado.
Frases despidas e arranhadas...
um lobo passou por aqui!
Ivane Laurete Perotti