MÁ...MÁ... MÁ....
NÃO
É A ARCA DE NOÉ - E NEM O NOÉ É
- contraditando o incontraditável -
" Tenho o direito de preservar macho e
fêmea."
Malafaia
Eu alimento o desejo insano e
herege - não sou herege, é só o desejo que alimento - de construir uma arca
para servir de base de afogamento. Não, a ideia não é afogar homens, mas sim, afogar discursos. Já que vivemos em uma
democracia - para quem ainda acredita que o sistema de governo brasileiro não é
uma fraude desfraldada em históricas bandeiras - eu posso ter desejos na
contramão do justo e do posto.Posto!
Por que
algumas pessoas abrem a boca? Bom é bocejar, comer, beijar, beber, mostrar a língua
para o dentista, cantar, assobiar, imitar passarinhos, beijar de novo, inovar o beijo e até falar... sim! falar é
uma faculdade deveras importante, inerente, natural, constitutiva, saudável, interativa, artística,
estética e humanamente previsível: você não consegue esconder o que lhe vai
n'alma. Abriu a boca para soltar as palavras, abre as comportas do que se
esforça para esconder. Ou não! Claro! Alguns vivem de fazer acreditar que
rasgam o verbo em pedacinhos não coláveis exatamente para mostrar ao outro que
nada tem a esconder. E você acredita? Eu não! Não acredito, pois vivo de
esconder a minha alma para que ela não saia rasgando as palavras que me
condenam aos olhos dos outros. Pois isso de condenar, é uma grande sacanagem,
um ato masoquista maquiado em pudor social, tendência para as práticas
parafílicas ( pena não poder escrever o significado descritivo desta última
palavrinha, mas afirmo e declaro o
desejo de fazê-lo) dos outros sobre os outros. Mais simples seria ter clareza
mental e condenar a si mesmo, aí, aos olhos dos outros, outros interesses ressaltariam o movimento voluntário de
"olhar para...". Ah! Dá para olhar pro outro lado enquanto tasco um beijo por aqui?
Voltando
ao afogamento de alguns discursos que cansam os verbos e atrasam o caminho das
frases, eu ainda amarraria pedregulhos nas pontas do que se chamaria início e fim de uma fala que profanasse a vida, o amor, a liberdade só para
garantir o afundamento de um continuum sonoro
inflexível, inflexionável e...intratável! Garantiria,
da mesma forma, a depuração dos sentidos que mancham as ideias de humana razoabilidade
acrescentando sal grosso à água da arca - sim, pois devo ter deixado claro no
início que a arca estaria vedada e cheia, bem cheia, em quadro contrário aos fatos bíblicos e às intenções do bom Noé. E por falar em Noé, Noé é o meu vizinho gaúcho, a quem amo muito desde sempre e nunca abriu a boca para dizer o que não
fosse importante. E olha que ele sabe falar como ninguém! Ele, meu vizinho Noé,
lembra-me Eduardo Galeano, outro amor
de minha vida - amor platônico e interesseiramente intelectual , já vou
explicando para dar conta de preservar-me, se tal for possível, da condenação exterior e da minha própria,
apesar de toda a dúvida que desejo permaneça formigando aos interessados - que
diz: " Quando as palavras não são
tão dignas quanto o silêncio, é melhor calar e esperar." Contraditando, um homem capaz de dizer tamanha
beleza em sequências de indelével verdade deveria saber beijar... será? Agora
fiquei curiosa! Vai um beijo aí?
Mas, ainda não afoguei os
discursos afogáveis e, continuo na linha de exorcizar as bocas que considero
portas do inferno. Sim, sim, sim... o contexto é para machos e fêmeas, ou fêmeas e machos em direito de preservação. E o exorcismo, vale para quem?
Insustentável a caricatura dos seres prensados em ideias de democrática opção:
comportamento, genética e religião têm paradigmas que até se encontram, mas
isso em razão de muito esforço de interpretação e metodologia antropológica.
Será que não daria para inundar uma banheira de amor e afogar alguns desses
seres em um pouco de entendimento? Contraditório: amor não afoga, não pesa, não
tem cheiro e nem solta as tiras. Pelo menos, até onde eu consigo pensar e
sentir. Denuncio-me que sinto? Sinto, sinto muito por não ter mais paciência para tanta
bobagem, incluindo as minhas.
"A
Igreja diz: o corpo é uma culpa. A Ciência diz: o corpo é uma máquina. A
publicidade diz: o corpo é um negócio. E o corpo diz: eu sou uma festa."
Eduardo Galeano
Ivane Laurete Perotti