VIUVEZ POLÍTICA

QUANDO AS VOZES DIZEM AMÉM AJOELHAM-SE AS FLORES

- sob o sol da esperança, o verde desce em flâmulas túrgidas à terra dos mananciais -

" Dilata-se o verbo no preâmbulo da carestia consagrada: até quando o homem pedirá por clemência diante do berço vazio?" Ivane Perotti

                                         Vozes ímpares deixam pegadas no tempo das vontades. Algumas voam, outras claudicam. Todas vibram: entre paredes, enfileiradas, fora dos trilhos, em círculos repetitivos ou estagnadas no mesmo e irrefutável lugar de enunciação. Vibrar é uma equação plural que atende à natureza sonora das vozes humanas, infestadas de raciocínios inglórios e frequências díspares. Assim caminha a humanidade até nascerem  flores na palma das mãos que cantam esperança. E cantam. E fecundam outras mãos com a semente de alegre euforia, pois a tristeza ronda os talos desprovidos de visão e engole a alteridade imberbe dos sujeitos sem peito, sem direção.
                                         No tempo da poética crua, agora, vozes perdem sua robustez no silêncio caricato da sociedade amordaçada. Existem mordaças para todos os gostos, valores e interesses: mordaças coloridas, recicladas, recém-saídas das linhas de produção, mordaças burlesques, bem ao estilo dos antigos cabarés, mordaças de cunho ativo, pró-ativo, maniqueístas, fascistas, masoquistas, e por aí vão. Vão tantas e quantas o gênero consumidor impregna a oferta  e a busca por imersão condicionada.
                                       Vozes levantam bandeiras. Praças levantam as mãos. Ambas flamulam, tremulam, indicam a imperiosidade dos pavilhões que alimentam a insurgência de novos estandartes. Destarte as massivas vozes, algumas delas, franzinas vozes, calam em plena ação. E quando calam, o silêncio se propaga em velocidade proibida, contrária à manifestação. É o silêncio da opressa obediência, educado silêncio em tempos de contenção: "... guarda-se o verbo, pois o sentido cria atrito e em pleno agito, a democracia, outro mito,  chama-se invasão."
                                       Berços vazios arrastam homens cansados, desprovidos de palmas,  homens perdidos e acuados, descalços, alijados das vozes que vibraram sobre a terra uma vez fecunda, terra falida  em gerações: terra de guapos, deixou farrapos para minguar os seus. Marcas de muitos berços, braços e embaraços em histórias que desfizeram o fio. Medalhas de honra, vestes de pompa cobrem o seco rio: quem desviou a curva,  mais de uma,  a curva que serviu de mirante, natural  semblante,  ao  pescador?  Dobraram a terra virgem, colheram o verde pincel, venderam a Terra, aquarela,  não vale o aluguel. Terra de mãos em pétalas chora sem molhar o chão. Vai-se embora a esperança, some o peão, engolem a terra do homem, calam a voz do sertão. Frêmitos de um grito, olhos sem brilho, vozes silenciadas no eixo da entonação.
                                      A sorte não cai do céu, nem explode da terra:  é o resumo do encontro livre entre os dois. Céu e terra vergam-se sobre as flores e as mãos, assombram praças sem desgraças, abençoam incursões. Pois há vozes andantes, sempre adiante, procurando abrigo para depositar serviços, plantar indícios , abrir portões. Cancelas fazem coro diante dos serões, dançam a planta túrgida escondida no seio do torrão, e passam a cantilena, choro das palma pequena  nos arreios da verdade, pura malandragem de quem aprendeu a esconder a vez: altivez? Nunca se sabe quando a floresta levanta a madrugada para acordar o homem atento. Sabe-se que, o homem atento, rega  flores para colher vontades, orgulho de muitas verdades, histórias a serem contadas em rodas de várias mãos.
                                     De joelhos, as flores aguardam: para sempre e sempre, amém!


 " Vozes e vezes marcam o rosto do homem maduro. A agonia  agarra-se às mãos,  palmas da face calejada, e sulca a alma cansada, quando o verbo, sempre ele, perde a flexão sonora, natureza implícita de outra  viuvez: a  política!" Ivane Perotti


Ivane Laurete Perotti

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