UMA AÇÃO E UMA PARTILHA
EM
CAMPANHA PELA SAÚDE DA EDUCAÇÃO
PARTE
I
DÉSPOTAS
DA IN-DUCAÇÃO: FAMÍLIA E ESCOLA PRECISAM FAZER O DEVER DE CASA
- quando o respeito e o amor
despregam-se de um educador sobra-lhe apenas a mão opressora -
"A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do
processo da busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora
da boniteza e da alegria. "
Paulo Freire
Existe um tipo de coerção que se dá por
veias invisíveis e penetra a alma exposta drenando a vontade imberbe, afogando o sujeito
em formação, cristalizando medos, desfazendo o respeito pela voz do outro,
forçando verdades. Feito agulha no braço, invade a carne e fere mais fundo, mais
fundo à medida em que se perpetua a força da pressão.
Por que veredas
escondeu-se a alegria e a boniteza do aprender escolar? Por que valas da impaciência, da humilhação e do desrespeito
vagam o espírito maduro dos educadores ? Perdemos a utopia necessária à voz da
sala de aula?
Tenho
ouvidos machucados. Vejo janelas quebradas grudarem-se sem saída à palma aberta
de estudantes perdidos, inquietos, desmotivados. Vejo portas fechadas que
escondem professores perdidos, acuados, doentes e cansados.
"Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens
se educam entre si, mediatizados pelo mundo."
Paulo
Freire
Sinto os estilhaços de vozes iradas
retumbarem em sentidos que não recupero: uma guerra de lugares marcados
instalou-se na escola brasileira, território de inimigos declarados estabelece
fronteiras de poder e opressão. Pais cansados abandonam os filhos à porta da
INSTITUIÇÃO ou da ESCOLA? Professores esgotados sinalizam o abismo que se cava
todos os dias diante de um ensino sem sentido. Dois lados debatem-se em
profunda agonia.
Onde foram enterrados os valores de partilha e
cumplicidade na formação do homem social? Por que o ato de ensinar deve ser
doloroso? Deve? Desprazer, desamor e limites rompidos chocam-se desalinhados
pelas salas de aula esvaziadas de humanidade, cooperação e tolerância
produtiva.
Gentes /de/formam-se dentro da INSTITUIÇÃO que poderia servir de lugar para a pedagogia
da aprendizagem. Gentes atracam-se e
combatem um combate fracassado pelas salas onde a "aula" deveria ser
um princípio e não um fim despótico.
"Me
movo como educador, porque, primeiro, me movo como gente."
Paulo
Freire
A mochila de peregrinos
abatidos, acuados , dispersos e precocemente entediados pesa no lombo das instituições família e escola. Do estatuto do amor nada se fala. Do
estatuto do respeito às singularidades, apagou-se a humanidade. Dos parágrafos
da história que ensina as lições a serem revisitadas não se sublinham os
métodos de aproveitamento. Apenas a
régua de medir resultados capitalizados se estende sobre cabeças e classes.
Professores e alunos são vítimas do mesmo sistema.
"Eu sou um intelectual que não tem medo de ser amoroso. Amo as gentes e
amo o mundo. E é porque amo as pessoas e amo o mundo que eu brigo para que a
justiça social se implante antes da caridade."
Paulo Freire
Vale o diálogo
otimizado das vozes que se constituem e fundam em sociedade? Valeria, se os
lugares dos sujeitos envolvidos tivessem instalassem ouvidos de educador, ouvidos de pais, ouvidos
de estudantes comprometidos.
Crimes
silenciosos são cometidos diariamente e só sabemos da morte quando tomba o
corpo diante das balas perdidas. Vilipendiar é um verbo transitivo direto:
rebaixa o emissor e o destinatário.
Vale salvar a
escola? Vale comprometer a família?
"Quando a educação não é libertadora, o sonho do
oprimido é ser o opressor."
Paulo
Freire
Ivane
Laurete Perotti