IN-DIGNOS: TORNOZELEIRAS DE PRATA
DE
VOLTA ÀS ORIGENS
-
do povoamento à formação atual: um Brasil de generalizações -
"Se o desonesto
soubesse a vantagem de ser honesto, ele seria honesto ao menos por
desonestidade"
Sócrates
Diante da
nau que partia buscando mais compatriotas, o condenado sentiu pela a liberdade quase profana tomar-lhe os ossos.
A nova terra prometia céu, sol e água pura para saciar a sede de vencer a preço
de conveniência. Um entre muitos, ficou e fez história na linhagem de uma nação que sequer sabia, naquele momento,
temperar com o seu caráter réprobo. E
antes que o politicamente correto tomasse lugar em suas conjecturas, o
sentenciado disse alto e em boa voz lusitana: venho para o bem dessa terra de ninguém, pois que antes tome-a eu, pela
retidão de minha vontade, do que a deixe para um forasteiro nefasto. E
assim se deu.
Embrulhados em
precárias flâmulas políticas, dançam diante de nós a temperança fraudulenta - a saber que tal "temperança" é a
figura da ironia brasileira, do tipo que carnavaliza as falhas de caráter ao sabor da Idade Média . Contrários ao
comedimento, os vassalos da ganância disseminam-se maciçamente: da corte ao
plebeus, dos plebeus aos filhos de algo/fidalgos/, dos fidalgos aos bastardos,
dos bastardos aos comissionados pela posição. Aos sem eira nem beira, o crédito
pela selvageria da precária seguridade.
À beira de
uma política da desonestidade, nosso legado é funesto. Estaria no sangue, nas
veias e na genética tamanho impulso para as falcatruas de grande monta? Formar
quadrilhas tornou-se ciência: venha a nós
o vosso dinheiro, a vossa merenda, as vossas calças... Fatiotas impecáveis
transitam pelos corredores da vergonha nacional. Farpelas nutridas a bom prato
- ratos da nação - ainda alcançam discursos de arguta defesa e pagam com o
dinheiro afanado as custas da liberação. Custa acreditar que tenhamos voltado
ao início de nossa história e a refaçamos com tamanha galhardia. Discurso
politicamente correto? Ora! Quem for capaz que anuncie a primeira definição.
Cadê as pedras?
Tornozeleiras
eletrônicas - algemas de tornozelo - não limitam as mentes criminosas; no
máximo, esses "adereços" em execução de justiça, parafraseiam o
cárcere indiano imposto a algumas mulheres: dos saris às joias de peso/preso, as eletrônicas não pesam - pelo menos
no corpo, pois que a moralidade de um imoral não tem espaço para melindres de
decência , pruridos de vergonha ou consternação. A desonestidade começa em outro
lugar: qual? "Ao contrário do que se
diz, não é a ocasião que faz o ladrão. A ocasião faz o roubo, o ladrão já nasce
pronto." (Olavo Bilac)
Apostas abertas: "Nunca ninguém perdeu
dinheiro apostando na desonestidade." (Millôr Fernandes) - quantos mais precisam ser despidos de
suas farpelas ( típicas bolas feitas de trapos e usadas pelas crianças
lusitanas para imbricar um jogo ) para reiniciarmos do menos zero? Se é
impossível refazer a caminhada genética, no mínimo, a depuração moral pede por
uma oportunidade para a educação e uma educação para a oportunidade. Uma vez
que, "O pior mal é aquele ao qual
nos acostumamos." (Jean-Paul Sartre)
Sem apostas!
Ivane Laurete Perotti