IMPERTINÊNCIA
REDE
DE INTRIGAS
perguntas
impertinentes
_ Se o mundo tivesse fundo, onde
depositaríamos os votos da nulidade?
A questão surgiu
sob um banco qualquer. Aquele tipo de banco que serve aos pássaros e aos homens
enquanto aguardam a passagem do destino: “Olá!...
esperam por mim?”
Pássaros e homens
não respondem à obviedade: sucumbem diante dela. De quatro, mesmo sendo bípedes
de nascença e evolução, sucumbem. Pés ladeados, asas cortadas rente à carne,
deixam morrer as vozes de apelo: “Nem todas as verdades são para
todos os ouvidos.” (Humberto Eco)
_ Se o mundo tivesse tempo, por onde
escorregaria o bojo da decência?
Decadência! Feito a
madeira de um banco qualquer, sob as intempéries antecipadas, jaz uma
sepultura: “... aqui morreu a sombra de
um sonho. Do sonho fizeram um pássaro. Desejava ser um homem.”
_ Se as
guerras são fraudes contra a ingenuidade da paz, acionar o Criador seria um
postulado legítimo?
Como se o banco encerrasse em si mesmo
a praça vazia, pássaros procuram trilhas e descobrem horizontes; o homem
descerra asas e perde o caminho. “Justificar
tragédias como vontade divina tira da gente a responsabilidade por nossas
escolhas.” (Humberto Eco) E lá se vão décadas de perdas irreparáveis.
Em bandos, olhos
pregados no céu escarlate, peregrinos da humanidade erguem fronteiras de
falaciosa necessidade. Árvores esparsas aproximam ramas do banco desocupado. Flores
esperam a vez. A natureza suspira: ondas de apaziguamento tomam forma de
ovelhas sem pastor. Onde mora a razão das causas perdidas? O Criador tirou férias!
Se a paz é outra
forma de guerra, o que sobra ao homem e aos pássaros? A volúpia da esperança!
Ou a força de uma pergunta!
“Quando
os homens deixam de crer em Deus, não significa que não creem em nada: creem em
tudo.” (Humberto Eco)
Ivane
Laurete Perotti