POESIA SEM NOME... AO AMOR QUE NÃO ACABA
VISLUMBRES
INSPIRADORES
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fragmentos da natureza entre a vida o homem –
“Senhor,
ajudai-nos a construir a nossa casa com janelas de aurora e árvores no quintal.
Árvores que na primavera fiquem cobertas de flores e ao crepúsculo fiquem
cinzentas como a roupa dos pescadores.” Manoel
de Barros
Quando as vozes
suavizaram-se, finas cordas desceram do teto abobadado. Não eram muitas.
Suficientes para prender o grito e amarrar a vontade. Bastantes para dar lugar
ao teatro de lugares marcados pela força da inspiração.
Invisíveis ao
plano externo, as cordas ocupavam o centro da grande cena. No átrio, um cometa
ameaçava romper os lábios da proteção sonora. De onde surgira? Duplas caixas
infláveis localizadas no interior da cavidade torácica chamavam para si a
responsabilidade do feito. Ambas trocavam movimentos: surdo e sonoro era o
resultado do empuxo e da explosão. Mas a voz que se desprendia iniciava outro
caminho: uma jornada de liberta aspiração. E do encantamento pessoal brotava um
sopro de sabores brilhantes. Pois, “...
que a importância de uma coisa não se mede com fita métrica nem com balanças
nem barômetros etc. Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo
encantamento que a coisa produza em nós...” (Manoel de
Barros). O momento requeria olhar de mágico, mãos de criança, olhos de pássaros
e coração de semente madura. Todos somados à frente das cortinas abertas.
Do auditório quase
vazio, um homem levanta o desejo de compreender a razão da beleza e da ausência
dela. Faltaria motivo, em sua leitura sábia e delongada, para uma composição de
vozes desvozeadas. Faltaria modelos
de feitura, performance ordenada e foco nas possíveis alterações das cordas,
dos lábios, dos pulmões e demais componentes da peça. Conceitos amalgamados em cursos invertidos
estariam prejudicando a tradução dos sentidos. O papel das metáforas estaria
relegado ao teto e não ao solo, às cordas e não à voz. Enfim, para o desejo do
homem, outra cena deveria compor o palco das inspirações. Tal como uma ordem de
primeira necessidade, de pronta aceitação, de fácil interpretação diante da
massa de ar que empurrava o cometa da sorte para depois dos lábios apertados.
Eis que a magia não
morrera de véspera e colocou-se de prontidão; mãos de criança levaram à boca
velhos dedos de unhas gastas e as cordas tensas travestiram-se de pregas vocais.
E então se ouviu o coro das almas vivas. Uma vez que, um pouco de voz não faria
mal à audiência, pois a poesia descera do céu e fizera-se homem, natureza, e beijava
as flores da consciência livre.
Dizer da beleza e da vida não é dizer do que
acontece entre a estética e a percepção. Dizer da beleza da vida é perscrutar a
voz que ecoa em sentimentos e emoções, nem sempre prontos, nem sempre do lado
que se lhes deseja.
Versos habitam a borda dos
abismos da vontade.
Ivane
Laurete Perotti