SER OU NÃO SER VÍTIMA DO SISTEMA POLÍTICO BRASILEIRO



SER OU NÃO SER VÍTIMA DO SISTEMA POLÍTICO BRASILEIRO

                                                             UMA VISÃO ROMÂNTICA


                                                             "O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. (...)"
                                                             Bertolt Brecht

                                   Lançar um olhar de "fora da situação vivenciada" é tão somente um exercício de "isenção de ânimo" de cunho terapêutico para alguns e fatídico para outros, mesmo quando ditado pela necessidade. Frustrantemente perseguido pelos grandes escritores da Escola Romântica, o estado de distanciamento da realidade que nos cerca pode ser tanto uma escolha quanto uma patologia. Pode ser! Vivemos o eterno devir filosófico das verdades democráticas: pode ser, ou não!
                                   Minha identidade política vai à contramão de minha incapacidade romântica: acredito na primeira enquanto respeito a segunda. Parece-me que respeito é exatamente o crédito que nos falta na via comum dos dias, enquanto aguardamos ilesos pelo milagre da salvação social, política, econômica, religiosa...
                                   Ilesos e "isentos de ânimo" são duas impossibilidades humanas condicionais clarissimamente claras, em minha leitura, óbvio; em especial quando se espera por um milagre. Milagres acontecem com a participação do sujeito atingido querendo ele ou não. Independente do viés que se utilize para classificar o milagre, ou o sujeito envolvido. As alusões ao filme "A espera de um milagre" são uma figura alegórica ao dito aqui: o protagonista da trama morre inocente nas mãos do sistema que não pode ser revisto. Que sistema? A realidade que encarcera os sujeitos que a compõem e a constroem proporcionalmente ao elo de sua participação ideológica. Somos produto e produtores. Esse é o sistema nu e cru no qual se inserem todos os sujeitos sociais, absolutamente todos, independente de seu maior ou menor distanciamento da realidade circundante.
                                   A ladainha acima é culpa do Aedes aegypti, responsável por banalizar os sintomas da dengue ou do dengue, doença que evidencia nossa incomum capacidade de expressar manha, dengo - de acordo com a origem espanhola da palavra. Não estou em condições de lançar um olhar isento para a nossa situação dengosa, uma vez que a fêmea do infame inseto voeja por estas bandas e me faz prisioneira de sintomas nada desejáveis. Da fêmea do Aedes para a situação de nosso envolvimento no sistema político brasileiro é um passo obrigatório na clássica afirmação de que somos títeres de nossas próprias cambalhotas: manha não falta. Não! Nem manha nem fôlego para esperar pelo milagre que não produzimos. Culpa do Aedes aegypti que expõe a fragilidade insustentável do sistema de saúde brasileiro, culpa das chuvas que desmoronam encostas povoadas irregularmente, culpa do novo mandatário católico que se faz tão próximo dos fiéis e levou uma grande comitiva nada representativa a desejar conhecê-lo pessoalmente na cúpula romana. Outros Chicos gostariam de estar próximo ao Sumo Pontífice para fazer uma conexão imediata com Deus - que dizem ser brasileiro e nunca!, nunca!, nunca foi argentino - e pedir clemência sobre as penas que lhe atingem a vida desrespeitada. Esses Chicos não foram convidados.
                                   Louvo a fé expressa de nossa Presidente Presidenta, mas ela não poderia ter ficado hospedada em um lugarzinho menos onerosos aos cofres públicos? Admiro os sinais de fumaça - não! os sinais das sirenes - que indicam a chuva descabida que assola a região montanhosa do estado vizinho, mas não se poderia investir em sinais concretos de prevenção, educação e infraestrutura ecológica e politicamente adequada à situação?
                                   Eu avisei com antecedência que minha visão era romântica! Haja dengue! sic! dengo!

                                                                 "As pessoas que, desgostosas e decepcionadas, não querem ouvir falar em política, recusam-se a participar de atividades sociais que possam ter finalidade ou cunho político, afastam-se de tudo quanto lembre atividades políticas, mesmo tais pessoas, com seu isolamento e sua recusa, estão fazendo política, pois estão deixando que as coisas fiquem como estão e, portanto, que a política existente continue tal qual é. A apatia social é, pois, uma forma passiva de fazer política."
                                                               Marilena Chauí

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