DIA DAS CRIANÇAS?
A
CAROCHINHA PERDEU O BONDE DA ERA FREE GAMES
- Um dia para a
criança de cada um -
As maiores aquisições de uma criança são
conseguidas no brinquedo,
aquisições que no
futuro
tornar-se-ão seu nível básico de ação real e
moralidade. (Vygotsky)
O Lobo Mau se deu mal. A Chapeuzinho Vermelho
deixou o capuz no rastro da vovozinha sarada. Monteiro Lobato foi censurado
pelos centuriões da vida e da morte sem riscos nem petiscos. Os Irmãos Grimm
perderam a cerimônia das licitações marcadas pelas fundações que mercantilizam
a xenofobia literária na carocha da falsa moralização.
Óh! Espelho! Espelho meu! Há crianças neste
reino que ainda querem o quê é meu?
Em João e o Pé de Feijão, a magra vaquinha
foi trocada por um IPOD de alta capacidade e rendeu um IPHONE de última geração
antes de João chegar à casa da mãe aflita.
Rapunzel jogou suas tranças em uma box de games cujos níveis
deixaram-na careca e presa à torre dos dissabores maritais, à mercê da bruxa
que serpenteia pelo castelo esforçando-se em mantê-la só e infantilizada. E
para arrolar a carocha aos argumentos que enluto, preciso afirmar com veemência
que os Role-playing games, os RPGs, MMRPGs,
os FPAs, são excelentes instrumentos lúdicos que incidem sobre o raciocínio, a
logicidade, a cooperação mútua de seus jogadores e ainda têm seu uso amplamente
incentivado pelo Ministério da Educação como método de ensino, sendo
classificados pelo Ministério de Justiça do Brasil.
Então, vamos comemorar o dia da criança
explorando ao máximo o quê o comércio coloca à disposição dos pais crucificados
e, no resto do ano, vamos trabalhar para que elas, as crianças, encontrem a
infância descolada dos contos reais e nos perdoem por abandoná-las à própria
sorte.
Proteger
a infância e participar dela de um lugar ao qual se acredita não mais
pertencer, é tarefa hercúlea para os pais e responsáveis. Quando no mínimo,
deveria ser um exercício prazeroso de trocas entre dois níveis de maturação
cuja interatividade seria permeada pelo amor e pela educação.
Se Vygotsky, grande pensador e observador
da fase infantil tem razão, nem a carocha nem os free games oferecem elementos
pedagógicos que dispensam a participação presente de um interlocutor: aquele
que brinca, brinca com alguém, brinca com o outro,
mesmo que esse outro seja um amigo imaginário.
Talvez, a violência tão execrada não
esteja apenas na literatura dos games e
nas maçãs envenenadas pelo ciúme mortal desnudado nas histórias da carochinha.
Antes, a violência pode estar na não presença saudável, amorosa e firme que
praticamos contra as crianças da vida real.
Salve-se a criança que ainda somos! Salve-se
a criança que ainda é!
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