O TEMPO...
O
TEMPO SEM TEMPO DAS RELAÇÕES EFÊMERAS
“Quando acordou, sentiu o existir do mundo em
hora estranha, e perguntou assustado: _ Uaim
Mãe, hoje já é amanhã?!”
João
Guimarães Rosa
Manuelzão e Miguilim
A fugacidade
da vida fustiga o rosto dos que mergulham no espelho do próprio umbigo. Ao
primeiro levantar do pescoço entorpecido deparam-se com a imagem desfocada dos
fatos que se foram e sinalizam não retornar: uma metáfora do desvio, da mentira
maquiada em história inaudita, não vivenciada, roubada com aviso prévio e data
antecipada. O tempo, invencível conselheiro da tenuidade, vence inglório as
passagens sem peso sobre a inconsciência humana. Anestesiados, seguem correndo
os que dilatam as possibilidades para um tempo logo à frente, na esquina da
avenida entre o futuro e o inalcançável.
Hoje já é
amanhã! E o agora não passa de
instável intuição sobre o momento presente quando o espelho do próprio umbigo
aquebranta-se, envergonhado diante da manutenção vazia de uma existência sem
reflexos.
Homens
destemidos tomam o instante entre as
mãos calosas com a suavidade da compreensão adquirida e aprofundam sem lástima
a percepção do ser e do estar acima das águas revoltas. A vida é
um oceano abissal confrontado pelas linhas nas quais transbordam o horizonte
infinito. Os destemidos reconhecem a impossibilidade de explicar a intuição do agora e mergulham, indômitos, na
correnteza viril. Inteiros, amadurecem e vivem para sempre na eternidade dos
sentidos merecidos.
Homens sem
sombra arrastam sonhos estéreis. Procrastinam em nome do tempo e à deriva da
vida, afogam-se em vã esperança de um dia, talvez... quiçá amanhã... quem sabe,
se Deus quiser... se o sol brilhar... se
a chuva vier... Na condicionalidade arbitrária do externo improvável formam-se as
relações sem fundo, sem lastro para a expansão, sem potência para os
sentimentos. Inconfessáveis pecados do não
viver, do não sentir tomam a
forma de relações ocas, vazias: estereótipo magnânimo de modelos e arquétipos
contemporâneos.
Eu fique... tu ficaste... ele
ficou... nós ficamos...
Não! Eu não fiquei... não fico... não
ficarei... até mesmo porque a defesa desse modelo está para um ciclo pertinente
à imaturidade da adolescência insegura. Um ciclo, uma fase, um período que, se
apoiado pela atenção dos que já encontraram um sentido, transcende a simples
experiência e abre espaço para o estar
consciente.
As palavras,
atravessadas pelos sentidos impregnados nos fatos sociais e deles
representantes, fazem moda. Está na moda
a defesa das relações efêmeras, independente de sua natureza: amorosa, sexual,
fraternal, familiar, empresarial,... Está? Modelagem, para mim, só enquanto metodologia
matemática. E, quando bem empregada a favor do raciocínio lógico.
Ficar à deriva da vida que passa do
outro lado do espelho é adormecer sem ter acordado. BOM DIA!!!
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