SONHAR ACORDADO...
SONHAR
NÃO É PECADO: DEIXAR DE FAZÊ-LO É IMPERDOÁVEL!
“Se
procurar bem você acaba encontrando.
Não a explicação (duvidosa) da vida,
Mas a poesia (inexplicável) da vida.”
Carlos Drummond de Andrade
Quando
cessam os ventos do desejo, desenrolam-se as teias da razão, montanhoso anteparo
diante do qual se esfarelam os sonhos imberbes.
Todo sonho é claudicante: agarra-se às próprias pernas e sobe a ladeira
das emoções em riste, sôfrego, pungente, um tanto ridículo, ávido em
desenrolar-se pelos ares da realidade manifesta. Assim pulsa a vida entre sopros enredados por
fios invisíveis e imperativos. Acreditar
no que ainda não é faz do espírito
uma entidade menos errante e torna o homem capaz de transcender sua
incompletude existencial.
Entre os sonhos e a razão estende-se uma ponte de ilusões necessárias
aos dois extremos: a ponte da fé; ativa faculdade imputada a alguns poucos
visionários da ciência humana. Sonhar acordado é uma característica da inteligência
criativa, da vontade de estabelecer um aporte para o inominável, para o
inenarrável, o inaceitável, o intransponível, o impossível. Talvez, sonhar o sonho
desejado seja uma forma lógica e produtiva de fazer a travessia para o
imaterial mundo das possibilidades. Talvez.
O sonho assume as feições do sonhador.
Nem bom, nem mau, maximiza os feitos ainda não feitos, independente de sua
natureza nebulosa. Entre as brumas dos sonhos espiam anjos e demônios. Todos
cercados pela força da mesma crença: a ponte é construída pelo sonhador que não
deixa cancelas pendentes. O bem e o mal passam pela mesma porta, atravessam a
mesma ponte e procuram a realidade que os concebe. Do ventre inflado pelo sonho
desdobrado nascem as probabilidades. Também as guerras encobrem sonhos que
flagelam a humanidade travestindo-os em razões justificadas por desejos insanos
de poder e soberania. O poder extermina os sonhos e sepulta-os sob os pés da
esperança vazia.
Diz a máxima empírica que a história se
faz com sonhos e lutas; como todas as máximas, adere-se, atemporal, a qualquer
terreno ideológico e funda – ou afunda! – o discurso do interesse em evidência.
Sonhar o sonho acordado não pertence ao campo minado das ideologias. Se assim o
fosse, deixaria de ser sonho para tornar-se mais uma adereço da ilusão ideal –
também necessária, até que se prove o contrário.
Quando os ventos da vontade cessam, latejam febris
os uivos da alma triste. Os olhos do corpo perdem o foco; os pés descalços maceram
a terra seca e fazem crescer raízes amargas. O homem que carrega o espírito apagado
derrama sangue sem cor pelas avenidas cruas e empedernidas de uma sobrevivência
desprovida de figuras, cores e amores. Anjos e demônios recolhem-se para longe
da cancela. A ponte necessária despenca, compacta, sobre o rio da vida que não mais
corre para lugar algum.
Sonhar é uma virtude! Construir o sonho
é uma opção que se exibe em uma dimensão paralela: a da razão sem pretextos.
“ Fácil é sonhar todas as noites. Difícil é lutar por
um sonho.”
Carlos Drummond de Andrade
Comentários
Postar um comentário