CORNITUDE, ESTADO MÓRFICO
SOFRÊNCIA ATEMPORAL
- na contramão dos versos musicais, o
sofrimento é uma pérola -
" E é nisto que se resume o sofrimento:
cai a flor, — e deixa o perfume
no vento."
cai a flor, — e deixa o perfume
no vento."
Cecília Meireles
Existia,
em algum lugar, um monge peregrino. Itinerante, longevo e solitário, cantava
odes à vida e ao amor.
Em uma de suas conversas perdidas, respondeu ao interlocutor curioso:
_ O sofrimento não me visita. Eu o recebo
antes.
Irrefutável: o monge nunca existiu. Pelo menos, não existia
até instalá-lo nesta página, lugar de lânguido passeio pelas dores terrenas ao feitio daqueles que pisam as uvas na
vindima. Ui!-alusão consciente aos discursos enfáticos, aforísticos e tomados
de empréstimo de uma figura folclórica no contexto atual... que se negue o
nome, uma vez que o homem passa à frente de suas palavras sentenciosas . MMAI! Palavras de peso pena! Nocaute ao
arranjo das frases soltas no ringue da articulação. Box de ideias sem parentes, caixa de imaginação.
Mas, o monge cantava frases musicais,
versos sonados, notas de inspiração, entre outras coisas do gênero que deixariam qualquer otimista em estado de
abundante garantia: ah! viver é um deleite sem fim. Cornitude é um estado morfológico entre aspas - / " "/...
e sofrência é a fusão entre duas
palavras xenofóbicas mais frases com poética marcação (lugar-comum é um espaço
partilhado por todos): longe dos olhos, longe do coração; sem fronteiras não há
solidão que se preze; amor que não
passa, não trai nem esmaga não é amor, é falta de... ops! não se permite a
rima. Perdão!
Pois,
longe de Douro, em Portugal, o monge
e suas canções não fortificaram nem o vinho, nem as alegorias moralistas.
Paremias à parte, a parte que me toca é um aparte interlocutivo, pretexto para
deslindar o texto e dizer do sofrimento: pérolas da inspiração humana,
profilaxia da alma, método alçapão ( pega-se o rato que come no prato e deixa o
pão/queijo que é queijo fura os olhos do ladrão...). Tudo porque ouvi a letra
de uma música e compreendi que ouvia
as letras das músicas em consonante
antecipação. Necessidade pessoal de reler A
intuição do instante, de Bachelard, ao som de... de... Bach! Johann Sebastian Bach, cravista e
professor, com régio honor! Vem e vai
e o sofrimento permanece como a fonte
que desce do Monte Olimpo e rega a Terra. Sem guerra não se faz ... ai! eu juro
que a rima fugiu e quase, quase a transcrevi em desordem de atenção!
Palavras são
emoções em atrito com o papel, lembrando que Joaquim Mattoso Câmara Júnior esteve a ponto de escrever algo
parecido: mas, eu o li antes. Li Mattoso
e queria tê-lo conhecido na época em que fazer academia era um grande mote à
elucubração. Pensar, pensar e pensar corresponde a malhar e malhar e malhar ( em
todas as acepções da palavra emparelhada a ferro...). Que seja estimulada a
ciência da musculação, contudo, eu aludia ao ato da potoca, da peta e do fino
trato dado à capacidade humana de fofocar: carapetão!
O monge instalado não gosta de azaração!
Texto: Ivane Laurete Perotti
Texto: Ivane Laurete Perotti