PARA NÃO SER ENTENDIDO... APENAS SENTIDO!!!
SUBINDO LADEIRA ABAIXO
- fácil
é um conceito que se instala na orla das árduas empreitadas -
" Tenho o privilégio de não
saber quase tudo. E isso explica
o resto." Manoel de Barros
As aparências
tomam corpo e descem o monte das amoreiras. Cruel solicitude: dá e pede de
volta. Entrega e cobra transporte. Finge, mais que tinge, a algibeira do
consorte.
Falam coisas
banais, coisas da vida comum: o comum da vida. Cingem o topo dos tropeços,
invadem a boca do mato, castigam o dono no ato, afinam o pé no estribo: alarido! Um
gemido, dois faróis. Três fantasmas em lençóis.
Galopa forte, vento
norte! Volte a sorte corredia! Negue a morte, cante o silvo de um novo dia. Ludibria.
Torce a ponta da mania. Justa e curta alforria, garganta aberta : quem diria?
Diria!
À
luz de engenhocas salvam-se melros,
fecham-se vias, reedita-se antiga agonia em laudas de geometria. Aulas de
sonhar sobem a escola de barros, muitos barros para amassar a inteligência tardia.
A
quem amaria?
Dona Noca, farinhenta, acorda cedo, frauda a
calda da polenta. Mulher sofre, agourenta, na palma da paciência; em cheias do
rio azul, águas levam a calma, os filhos
não sustenta: aguenta! aguenta! morna paciência!
Quem deixaria?
Mãe robusta, Dona Augusta, mãe de todos os punhais. Cala a carne em boca
seca, aquece a lenha , despeja a senha, dobra o rosto, fino torso, visceral. Cai
a chuva no telhado, molha a lona do curral: rola e cola, além da gola,
atravessa vendaval. Dona Augusta, mãe robusta!
Falta juta ao cajado, palha e alho, coisas
raras, falhas caras, cetro reto, artesanal. Berimbau: coroa de peito, longo e
feito, meio sem jeito, arco musical.
Alegria:
benfeitoria depenada em noite clara de luau. Ai! Medo mau. Lobisomem , outro
homem, animal, sentimental.
Depois
do enterro, a festa do batizado. Depois da festa, a forca ao condenado. De
palavras sem tino, fica o ditado: "...come depressa, tartaruga de
conversa... antes que a porca torça o (...). "
/b/ e /d/ em arado de gancho,
volta ao rancho, debrua o tanso, no remanso de
água fria.
Desvalia.
Não se mede a inteligência pela tripa da sangria. Verde homem sem mestria, homem velho já dizia: preço bom não se mistura
aos trocados da guria. Aprume o bico, Alarico! Primo rico, sem penico.
A carga leva o manco, de tamanco, ao pátio das regalias.
Figuram motes, dão folias, todos juntos: Ave-Maria. Repetia o Seu Joaquim: ai
de mim! sai assim! Coisas santas não são tantas, valha-me longe, muito longe, coisa ruim.
Serafim foi um Nonno: pernas à
volta do rádio, escutava as notiça , em preguiça de sentado. A Nonna chamava a Nenna, com voz de acolchoado, enquanto fervia, lado a lado, uma vez, mais uma, o súbito chiado.
Aloprado.
Tira
a noite no folgado. Escala o chão, sela a placa em cada mão,
deita a alma remendada na travessa do colchão; fala a fala, rala, em língua de sabão,
caramujo, ou marujo sabichão:
obrigado! Obrigado, ao homem das frases lindas, novas, velhas, infindas, coisas
de Barros, Manoel!
" Descobri que todos os caminhos levam à ignorância."
Manoel de Barros
Texto: Ivane Laurete Perotti