NUDEZ CALCULADA

SOMA DEMOCRÁTICA: FANTASMAS CAMARADAS, NUDEZ  E
DESABAFOS DELIRANTES
                        
   - a nudez resulta de um "cálculo" localizado na matemática dos efeitos: a democracia também! -

"Só o rosto é indecente. Do pescoço para baixo, podia-se andar nu."     Nelson Rodrigues



                              Pergunta democrática:   Quando um "fio dental "  é insuficiente?
                              Resposta indecente: Quando os tubarões já foram alimentados, quando a praia  se encontra vazia e  quando chove os milímetros hídricos necessários para saciar a sede do povo.
                             Resumo argumentativo: argumentos dispensados.

                            Arrazoado: verborragia tautológica.

                            Que se comece o texto sob a alegação primária - e necessária - de que o discurso não dispensa a roupagem dos sentidos politicamente atravessados. Dispensa?
                           O estar no mundo dependura-se na formação de movimentos somados, opiniões deflagradas, interações mediadas pelo senso comum ( conhecimento vulgar?) e pela vontade de respirar. Respirar faz bem à saúde! Fantasmas também! Desde que provados e alimentados pela crença ou ... pela autoconsciência de cada um - de acordo com Giulio Rognini ( vale pesquisar o assunto da pesquisa dele, ou ler a pesquisa do assunto dele, ou simplesmente ler sobre ele: o assunto).
                          2014 é o ano dos fantasmas,  das selfies, da nudez calculada, das GoPro  com  cabo de aço e dos discursos vazios - sem palavras dignas de repetição: lembranças amargas para qualquer biografia que se preze, ou se ressinta de conteúdo! Imagino a desdita: 2014 terminou com festa! Trocadilho famigerado. Mas, pelo tempo que a ironia e a imaginação não se tornem vacináveis, nem exijam  tratamento excludente, tartamudeio e imagino em  continnum visceral.
                           Imagino Sartre escrevendo As Palavras em pelo, quero dizer: nu, desnudo, pelado,  despido... ah! deveras seria o quadro um  incentivo ao singelo  verbo desadornado; fausto libelo: articulação em primeira instância, pequeno martírio à sintaxe da razão, às figuras de evocação, às linhas intraduzíveis.  Valha-se Port Royal no escaninho gramatical de todos os favores sintáticos: nenhuma roupa custa a pena quando o  verbo não traduz o acidente . 
                          Nos volteios das expressões manifestas a censura é palha pequena e não cobre o rosto, nem dobra a língua, nem mitiga o tráfego de outras influências, especialmente, as que advêm de causas perdidas. Exemplos?  A taxonomia da vida pública,os delírios políticos, as corruptelas consentidas,  os desvios financeiros com aprovação do consenso nacional,  a fome de educação subsidiada por "bolsas miséria", a transferência de ônus, bônus e coisas tal. Ai! Aristóteles teria aprovado a nudez intelectual? Grave distúrbio pensar que se pode brincar com as palavras e acreditar que se permaneça ileso. O que é plausível nem sempre é comestível!
                           Plausibilidade não  faz bandeira na conjuntura atual: paradoxos da vida privada em cáustico declínio. Eu Descartes, Tu Descartes,  Ele Descartes... nós sem René de La Haye,  possível pai do pensamento moderno e do método que ele próprio desconstrói.
                     As ideias não nascem, vêm a furo na matriz do entendimento. Será? Dúvidas são necessárias para alimentar as verdades improváveis...
      
                      "Não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos..."

                                       Nelson Rodrigues
Texto: Ivane Laurete Perotti

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