AINDA SOBRE O AMOR...
PARA
NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DO AMOR – PARTE II
“Minha
cabeça está debaixo de água (...)
Você está louca e eu estou
perdido”
(Letra de All Of Me - John Legend)
Em
um semáforo da vida, o sinal vermelho ilumina a moça chorosa que desce do carro.
Pneus deixam marcas no asfalto. Velocidade descontrolada, o motorista não olha
para trás. Segue-se o roteiro conhecido das brigas motivadas por amor. Novelas pré-escritas, encadeiam
capítulos com evolução marcada pelo lugar comum. Nenhuma novidade. Nenhuma, se
a barriga protuberante da moça chorosa não mostrasse avançado estado de
gravidez. Um detalhe na história
repetida: um detalhe triste no quadro da imatura realidade.
Para as
testemunhas da primeira cena pública, ficaria ali o incidente entre dois amantes
mais um: um ser em vias de nascimento. Ficaria, se as manchetes dos jornais não
invadissem a memória dos espectadores involuntariamente envolvidos. Três mortes anunciadas sem o enredo brilhante
de Gabriel García Márquez. Razões? O grande escritor colombiano, responsável
por criar o realismo mágico na literatura latino-americana era um jornalista de
mão cheia e um idealista ainda maior. A primeira cena poderia ter sido
arquivada por ele na categoria dos fatos inevitáveis, talvez, pouco produtiva
para o contingente literário. Talvez! Difícil é administrar os sentimentos de
frustrante estupor frente aos recorrentes fatos reais.
Por onde anda
o amor?
Palavra marcada pelos vieses das
experiências multiplicadas e pelo descuido dos empregos malfadados cumpre-lhe dar
sentido ao nonsense generalizado –
simplificado -, ou ao desejo de abrandar o desconforto diante de conceitos
atravessados por regras morais, culturais, religiosas... Fazer amor? Bom se
assim se pudesse determinar o processo subjetivo de um sentimento cujo termo referente
é um perfeito (e furado) guarda-chuva (embaixo dele cabe o que se colocar)
usado para descrever desde o ato sexual até o mais intrincado e indescritível
vínculo emocional: afeição, misericórdia,
compaixão, inclinação,
atração, apetite, paixão, querer bem, satisfação, conquista, desejo, libido... Ah! Sim! Com direito a todas as
conotações românticas e românicas que implicam um e outro. Ciúme? Deveras! O
medo real ou irreal de perda do objeto
amado é uma força instintiva, natural, visceral, de acordo com alguns
estudiosos do comportamento animal: mais humano, menos humano. Nem mesmo a
fauna foge ao poder da teoria que, em muitos casos, beira a patologia ou
transforma-se em obsessão. Édipo leva a culpa e Freud há muito aceitou a
avalanche das complexas críticas acerca de sua teoria psicanalista. Com ou sem
mecanismos psicológicos infantis, o amor e o ciúme tendem a dar as mãos ao
atravessarem as ruas, ao pararem nos semáforos apagados, ao transformarem-se em
desvalidas histórias de violência mortal. Tendem? Como se tratam as tendências?
Depois de virarem estatística, bom seria se servissem para abrir novos
capítulos nas histórias hamletianas
cujos finais culminassem na inovação madura de relações saudáveis. Bom seria!
"Se
o ciúme é sinal de amor, como querem alguns, é
o mesmo que a febre no enfermo. Ela é sinal de que
ele vive, porém uma vida enfermiça, maldisposta. "
(Miguel de
Cervantes)
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