VIVER É POESIA CRUA...

ENTRE O AMOR E A ESPERANÇA HÁ SEGREDOS E PECADOS GUARDADOS EM BANHO-MARIA

                                                                  VIVER É POESIA CRUA


                                                          "Para conquistarmos algo na vida não basta ter
                                                            talento, não basta ter força, é preciso também
                                                            viver um grande amor!"
                                                            Wolfgang Amadeus Mozart  

                                   Ao abrirmos os olhos pela manhã o dia impõe seu ritmo e a vida embala-se em maior ou menor grau de poesia. Poesia? Colocaram pão com manteiga na mão do poeta e ordenaram-lhe que tomasse o ônibus lotado até o serviço que lhe espera na porta de cara amarrada. Tá! Pão de sal rima com palavras amenas e o poeta deixou em casa a amada recém-conquistada para sempre e sempre a eterna apaixonada.
                                   A poesia voeja entre um e outro e senta aos pés dos que ainda não acordaram e, principalmente, dos que não mais acordarão. Os que não mais abrirão os olhos procuram a rima dos sentidos sem sentidos. Verdades improváveis sacolejam na mala da alma. Depende do quanto cada um viveu o quê viveu. Só isso? E o amor? E a esperança? O tipo da bagagem descreve o conteúdo intocável: cada qual com o seu próprio fardo.
                                   Então, a crua realidade se faz poesia concreta. Arde nos olhos que se abriram na esperança de reescrever o dia.
                                   Ai! Dia de sonhar, dia de esperar, dia de sentir o vento lá fora. Dia de tocar a mão próxima e beijar os lábios de quem passa.
                                   A vadiagem do destino deixa órfãos pelas estações despidas de segurança. Alguns acreditam no amor e o buscam sem freios. Outros usam freios a vácuo para proteger-se dele. Amor? Lucra quem não o conhece e ganha quem o despede. Foi-se o tempo sem tempo do romantismo piegas. Foi-se? Onde se instalaram as diferenças? Que diferenças? Entre amor e amor há tão somente a escala dos tipos não catalogados pela força da obviedade. Amar é deixar-se enfraquecer pelo desejo de estar onde não produzimos nem inventamos novidade. Lei da poesia. Lei crua da vida dos fortes e amorosos homens universais, vivos e sobreviventes, todos órfãos de si mesmos.
                                   Somos "crias" do medo, único timoneiro de cara lavada a transitar sem rodeios pelas vias sinceras escondidas na parte de trás de nossos olhos esbugalhados. Medo de amar é medo de esperar o espelho nos dar as costas. Tememos perder a imagem gloriosa de nós mesmos. Amar é quebrar o espelho que nos reflete ao contrário, é andar descalços por caminhos desconhecidos, é abrir espaço para o incomum. Aí começam os segredos e os pecados, revelados ou não, a depender de quem profana a poesia e de quem esconde a alma vazia.
                                    A força e o talento vêm em forma de herança para alguns. Mas o amor... ah! O amor é um direito transcrito nas entrelinhas dos contratos de nascimento. Quem nasce tem passagem livre, mas o mapa das vias abertas virou-se de cabeça para baixo e rodou várias vezes por mãos secas de vontade. Mãos áridas de luz, mãos vazias de bondade, mãos disfarçadas em garras afiadas, mãos esculpidas a ferro em brasa.
                                   A poesia está nua. Os segredos tornaram-se claros e não há pecado sem pecador.
                                   São muitos os olhos que não voltarão a abrir-se para especular o dia. De mochila nas costas, lindas almas esperam pelo trem da esperança que irá levá-los para o outro lado do sol. Segredos? Não escondem o pecado de acreditar uma vez mais, outra vez, mais uma vez.
                                   Aos que fazem versos pelas calçadas da vida, aos que não temem a força de um grande amor, que a sorte lhes seja irmã: casta e pura, pois os castos, dizem os iniciados, não sucumbem ao ciúme mortal.
  
                                    "Até que o sol não brilhe, acendamos uma vela na escuridão".
                                     Confúcio       




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