JOGOS DE PODER
JOGOS
DE SEDUÇÃO: UM PODER PARALELO
“Conquistar não é suficiente. É preciso saber
seduzir.”
Voltaire
Arqueólogos das relações interpessoais, especialistas em comportamento,
debatem-se através da névoa pegajosa que encobre as camadas dos intrincados jogos
elaborados nos labirintos da mente humana, à lembrança de antigo véu: bordado
sobre tecido fino, esconde o ponto que amarra a linha exposta.
Mais
ou menos conscientes, estrategicamente construídos pela lógica da sobrevivência
emocional, e pela incompletude indecifrável do mundo subjetivo, os
comportamentos desnudos fazem da prática e dos estudos antropológicos uma
ciência quase divinatória. Longe das epopeias clássicas, o enredo que trazemos à
nudez das interações socializadas não dizem da evolução qualitativa do homem na
coletividade, antes, particularizam situações cujos enigmas colocam a figura
mítica do Minotauro em status de anjo provedor. Quem somos e a que viemos?
Seduzidos
pela voracidade curiosa de compreensão e justificativas, não exatamente de entendimento – diga-se à revelia da
mordedura irônica que ronda o discurso -, debatemo-nos a especular sobre
questões sem respostas: até que ponto somos capazes de explicar as escaramuças
de nossa condição humana? O quê pertence ao espectro da normalidade, da
patologia, da anomalia, da adversidade, da simples e triste circunstância? Até
onde a humanidade intrínseca em todos os homo
sapiens lhe faculta o domínio sobre o próprio comportamento? Quando e
quanto do quê fazemos ultrapassa os limites do Labirinto de Knossos? O Labirinto de Creta engole um homem a cada
homem e devolve, quando devolve, um amontoado de perguntas que não se dirigem à
Esfinge. Por que fazemos o quê fazemos?
O
campo semântico que abarca o verbo seduzir
mitiga sentidos, em sua maioria, inclinados às noções de fascínio letal,
corrupção, traição e encantamento demoníaco. Somos devotos operários da língua
e já suavizamos boa parte do leque semântico do vocábulo, favorecendo sua outra
verve: a de propor sentidos de fascínio benfazejos. Que seja! Pois, poderíamos
estabelecer um vínculo natural entre a inexplicabilidade de alguns
comportamentos humanos diante do nível da sedução que nos provocam? Ponderando sobre os imponderáveis fatos que
envolvem: a corrupção política, o poder hierárquico, o poder do dinheiro, do
saber, do segredo, das drogas, das armas; o poder do macho, o poder da mulher
bonita, o poder do nome que tem herança, o poder do poder instituído. Poderíamos?
A sedução
seduz; induz os fortes e os fracos ao tabuleiro dos jogos clandestinos, cujas
apostas nem sempre estão à mão. Mas bem gostaria de simplificar a pergunta
entranhada no texto. Há quem viva do prazer que a sedução emana, e há quem
sobreviva do poder que ela exerce. Um poder que agita nossa natureza já
inquieta e fustigada pelo medo de perder o lugar. Vale desbancar a dita cuja?
“ Sou louco pelo
poder, seduzido pelo poder e para isso que eu
vivo.”
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