ODE SEM ESTROFES
UMA
ODE SILENCIOSA AO EFEITO INFESTO DA
DESEDUCAÇÃO
“Se você quer civilizar um homem,
comece pela avó dele.”
Victor Hugo
De tempos em
tempos, as palavras sobem ao patamar dos modismos e repetem-se de boca em boca
sem produzir mais do que as plosões fonéticas
decorrentes das junções vocálicas e consonantais em um único campo de força.
REVITALIZAÇÃO é o termo da vez. Mas contrariando o espectro de sua natureza
sintática, pouco promove do que indica. Revitalizar é insuflar nova vida, nova energia,
o mesmo que revivificar, revigorar, revivescer: diferente de maquilar,
mascarar, disfarçar, esconder, disfarçar as imperfeições.
Andamos de quatro! Nos quatro apoios que
a natureza favorece ao desenvolvimento do equilíbrio ereto e que deveria ter
sido superado na primeira fase da evolução. Sigmund
Freud, há bem mais de um século, presenteou as escolas humanistas com as
evidências de uma capacidade ímpar ao ser social: DENEGAÇÃO. Recusar, negar é
também uma forma de confrontar. Olhar o mundo de frente e denegá-lo pode servir a vários propósitos; do particular ao
coletivo, esbaldamo-nos descobrindo como e quando manter em pé a triste lona
circense dos disfarces politicamente corretos.
Vamos
revitalizar a cidade nua, as ruas desdentadas, as lagoas afogadas, o asfalto que
beira os buracos da pavimentação, as praças despidas, o desarranjo das
convenções de trânsito, as doenças letais da saúde pública, as escolas esquecidas...
vamos revitalizar a civilização! Grande medida! Projeto para muitas gerações,
ou pelo menos, para as gerações que sobreviverem aos partos nos corredores das
maternidades fechadas.
Revitalizar o
quê? De dentro para fora, a maquilagem não faz efeito. Sob o calor do espírito,
da consciência e da vontade, os disfarces não logram efeito. Revigorar a
consciência gera trabalho de enxada e este, com certeza, não está ao alcance de
todos. Poucos braços se colocam embaixo do sol sem preconizar um grande lucro.
Os interesses pessoais mascarados em proeminentes projetos sociais custeiam a
corrupção de valores e a já parca humanidade do homo sapiens. Homo sapiens... homo sapientia... homo sapo... Que os
pobres trocadilhos não exponham a minha fragilidade de alma, nem ofendam a
etimologia dos saponáceos e menos ainda dos batráquios. Não vivemos uma fábula,
pois não há moral que sobreviva à repetição recorrente de erros grosseiros e
violentos em nome do hedonismo incurável.
O teor drástico do texto é aparente:
maquilagem para a che paura traduzida
do italiano comum. Que medo! Sim! Medo de perder o movimento da revitalização dos
passos que ainda corroam a consciência desperta! Estar consciente gera dor,
suor, frustração, medo e esperança. O resto vem a cavalo, ou fica para as
próximas cenas da novela política. A soma dos sentimentos deveria mover-nos
para fora da lagoa, mas enquanto a
drenagem se faz necessária, há de se entender que as atitudes individuais não prescindem de uma escola para a vida.
É possível REVITALIZAR o quê ainda não
aconteceu?
“Iniciativa é fazermos o que está certo sem
ser
preciso
que alguém nos diga para fazermos tal.”
Victor Hugo
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